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sábado, 19 de junho de 2010

Lembranças de uma infância banal: como nasce um professor do futuro

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara
(José Saramago. Ensaio Sobre a Cegueira)

Diversos motivos explicam o fato de eu ser professor de Geografia. Diversos momentos explicam meu modo de lecionar. Diversos processos explicam o que ensino. Diversidade espaço-temporal-simbólica é uma característica de minha vida e, acredte, da sua.

Leciono Geografia, e buscando em minha infância lembro de passagens que antecipavam minha necessidade brutal de conhecer mais e mais o mundo. Acordava sempre para ver Globo Ecologia, Globo Ciência e Globo Rural. Eu adorava saber o preço da saca de café conilon, e da arroba do boi no Mato Grosso do Sul. Entender como a poluição se concentrava na atmosfera de São Paulo me dava frio na barriga e excitação pelo tema. Quando eu lia o jornal, só me interessava pelas partes de Esportes e Economia. A última me rendia longas conversas sobre política econômica e industrial no Brasil e noutras partes do globo. Mas eu também brincava, jogava bola, rodava pião, andava de bicicleta e me ralava todo caindo no chão, andei de skate, ia a praia, passava as férias de Julho e fim de ano na casa de meus tios Walmir (in memoriam) e Rita. Eu gostava de estar num bairro diferente. Me fazia bem o novo.

Organizar-se já é de certa maneira, começar a ter olhos
(José Saramago. Ensaio Sobre a Cegueira)

Quando era época de Copa do Mundo, comprava as revistas da Copa, e nelas encontrava informações sobre os países participantes: idiomas falados, religião, culinária, população e os diferentes tipos de mulheres bonitas de capa país eram a cereja do bolo chamado Copa do Mundo. Eu queria ir para a Holanda. As meninas holandesas que apareciam nas filmagens de torcida eram...ai...incríveis. Ainda são!

Aí eu me dedicava a ver semelhanças dos nomes dos jogadores de cada país, e descobri que, pelas bandas da Holanda, os homens costumavam se chamar "Von", "Van". Enquanto outros países possuíam nomes muito próximos, me questionava o por quê do Brasil não possuir um padrão: Careca, Romário, Bebeto, Dunga, Ronaldo, Mauro Silva e Zico não formavam um conjunto linguístico homogêneo. Eu ainda não era consciente de nossa esquisita formação territorial.

Ao utilizar meu computador 486 (modernooo), eu buscava joguinhos típicos de crianças de época: Fifa Soccer, Elifoot, Carmem San Diego eram comuns. Carmem era um joguinho esquisito, pobre de grafismo, mas rico em informação geográfica. Perseguia bandidos, sempre lendo as listas de dicas e pistas que eram dadas acerca do paradeiro dos bandidos. Eram dicas simples, mas com bom conteúdo geográfico. Aprendi a buscar em livros por estes jogos.

Aos domingos, assistir ao Fantástico, além de me fazer tremer de medo com as supostas imagens de eventos grotescos como a possível autópsia do ET da Área 51, eu via imagens dos enlatados do Discovery Channel e BBC, que recheiam o programa, mostrando profundezas dos mares, ou a migração dos golfinhos. Adorava Jacques Cousteau. E me tornei meu próprio Jacques.

Não é caro criar um pesquisador de qualidade na infância. Eu jamais fui uma criança de exigências caras. O interesse que nascia em mim pela pesquisa era o mesmo que hoje exijo de meus alunos, no Colégio Naval, única instituição de Ensino Médio da Marinha do Brasil, localizado em Angra dos Reis. Lembro que eu fiz Geografia porque meu professor de 5ª série até o 1ºano do Ensino Médio, Emanuel Carneiro, faleceu.

Eu era apenas um adolescente, e chorei muito ao saber, duas semanas após ve-lo, que ele morreu após uma cirurgia de retirada de um tumor no cérebro. Ele usava um anel de ouro com uma grande "jujuba" de rubi, e era engraçado. Amava o Lula, deixando a barba crescer em anos eleitorais. Usava camisa da Redley florida e calça da Company. Era um bom professor, e não comentei que na escola, era minha matéria favorita. Soube estimular minha facilidade natural por Geografia, e minha humana e simples capacidade de me indignar.

Acho bonito lembrar de nosso passado. Ao olhar para trás, entendemos os por quês de estarmos onde estamos hoje. E assim, somos capazes de planejar a vida e protetarmos nossos destinos no futuro. Quero ser lembrado como um bom professor. Aprendi iso com pessoas como Emanuel, e tornei isso minha opção por fé. Tenho fé no conhecimento. Ele liberta. Este é meu testemunho.

O mundo é confuso e confusamente entendido
(Milton Santos)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Estatuto da Igualdade Racial – Entre o avanço e o atraso – Breno Mendes

Estatuto da Igualdade Racial – Entre o avanço e o atraso – Breno Mendes

Uma lei que se pretendia avançada, demonstra-se arcaica perante os avanços já praticados pela sociedade brasileira

O Estatuto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em Setembro deste ano. Porém, no Brasil o problema de um sistema bicameral é o de que o que demora para ser aprovado por 513 deputados, ainda terá que ser aprovado sem modificações por mais de 90 senadores. Caso haja modificação, vai de novo para a Câmara.

Mas nos parece que ouve uma costura política delicada no projeto aprovado pela Câmara. A questão crucial era a que abordava a política de terras de remanescentes quilombolas, que, segundo palavras do deputado Indio da Costa (DEMOCRATAS-RJ), poderia criar “uma espécie de MST negro”. Onyx Lorenzoni (DEMOCRATAS-RS), disse que o projeto, após ser verdadeiramente retalhado na Câmara, perdeu o indesejável “germe da racialização”.

O texto que foi para o Senado está sem grande parte das considerações consideradas mais polêmicas pelo status quo brasileiro branco: ficaram de fora a regulamentação de cota de 20% de negros para filmes e programas de TV e o detalhamento da demarcação das terras de quilombolas. Outra proposição que foi cortada do projeto original foi a reserva fixa de cotas para negros nas instituições federais de ensino superior (universidades e afins). Ou seja, o estatuto não prevê cotas.

Segundo palavras do Ministro Edson Santos (SEPPIR), o estatuto é um ponto de partida que reconhece e dá visibilidade à questão negra. Me desculpe, mas RECONHECER a questão negra é dose! Ainda não haviam reconhecido? Mas perae! Dar visibilidade? E Desde primórdios, e Abdias, e Ivanir, e os pré vestibulares, e as campanhas? Não deram visibilidade?Nem Obama deu visibilidade? Precisamos de uma colcha de retalhos para isso? Ok se dizem assim...

Para entender, o texto prevê a “possibilidade” (isso sim, um estatuto fica anos tramitando para instituir a POSSIBILIDADE! Só no Brasil mesmo...) possibilidade de o governo criar incentivos fiscais para empresas com mais de 20 empregados e pelo menos 20% de negros.

Diz ainda que o poder público adotará ações afirmativas em instituições públicas federais de ensino mas não prevê cotas, e promoverá igualdade de oportunidade no mercado de trabalho. Parece bastante vazio. Também foi aprovada ainda uma cota de 10% para negros nas candidaturas a vagas da Câmara dos Deputados, Assembleias Estaduais e Câmara de Vereadores . Mas isso não parece alterar em nada o momento atual. Pois é possível eu ser líder de partido, colocar 10% de candidatos negros, porém as candidaturas que mais recebem dinheiro e tempo na TV serem de candidatos a vereador brancos ou similares.

A esperança é que seja aprovado até o dia 20-11-09, mas hoje é dia 3 de Novembro e só no dia 28-10 que Sarney recebeu representantes do Mov. Negro Nacional do PMDB (nem sabia que isso existia, sinceramente!). O Senado propaga que Srney foi o grande mentor das cotas nas universidades (sic): cf. http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=96818&codAplicativo=2&parametros=igualdade+racial

A matéria do projeto de Lei de Paulo Paim está identificada no sistema do Senado, mas há uma defasagem de 5 anos na informação de tramitação, pois só vai até 2004: cf. http://www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=58268

Em diversos momentos, o Estatuto se aparenta com uma segunda Lei Áurea, ou Constituição Brasileira dos Pretos:
Art. 19. A população afro-brasileira tem direito a participar de atividades educacionais, culturais, esportivas e de lazer, adequadas a seus interesses e condições, garantindo sua contribuição para o patrimônio cultural de sua comunidade e da sociedade brasileira.

§ 1 º Os governos federal, estaduais, distrital e municipais devem promover o acesso da população afro-brasileira ao ensino gratuito, às atividades esportivas e de lazer e apoiar a iniciativa de entidades que mantenham espaço para promoção social dos afro-brasileiros.

A pergunta que faço é: Estes direitos não estão assegurados já na Constituição Federal? Logo, se um texto parecido e similar a este na Constituição, carta-magma do Estado brasileiro, não foi acatada e cumprida, criando tais vissicitudes e aberrações estatísticas quanto ao acesso da população negra brasileira ao ensino gratuito, de qualidade e à cultura, seria NECESSÁRIO um texto mais enfático. Mais prático.

Porém nem tudo é espinho. Há flores, e bons frutos no projeto. Porém,são poucos. Estabelece a obrigatoriedade de ensino e inclusão de uma disciplina chamada História Geral da África e do Negro no Brasil. Uma questão é como encaixar a disciplina, já que História somente possui 2 tempos semanais, assim como Geografia, Filosofia, Artes, Sociologia, Educação Física e outras. No futuro, uma ampliação em horas diárias do tempo de escola será urgente.

Art. 21. A disciplina “História Geral da África e do Negro no Brasil” integrará obrigatoriamente o currículo do ensino fundamental e médio, público e privado, cabendo aos estados, aos municípios e às instituições privadas de ensino a responsabilidade de qualificar os professores para o ensino da disciplina.

Parágrafo único. O Ministério da Educação fica autorizado a elaborar o programa para a disciplina, considerando os diversos níveis escolares, a fim de orientar a classe docente e as escolas para as adaptações de currículo que se tornarem necessárias.


Nos últimos anos no Brasil, diversas disciplinas se tornaram obrigatórias. Vide, após a escolha da cidade-sede para Olympics 2016, as autoridades terem instituído que teremos segunda língua estrangeira obrigatória em algumas escolas e a introdução já no ano que vem do Inglês para crianças do 1º ano (antigo C.A.) ao 3º ano do Ensino Fundamental. Em 2011, para 4º e 5º anos: http://noticiasrio.rio.rj.gov.br/index2.cfm?sqncl_publicacao=21489 . Pergunta de quem é professor de Geografia e se interessa no bom uso da escola: Quem dará aula da disciplina? Geógrafo, Historiador, Sociólogo? Para o autor deste texto, todos estes.


Outros artigos se mostram lixo burocrático. Vide o que chamo, sem medo, de gasto de tinta sem utilidade alguma:

Art. 22 . Os órgãos federais e estaduais de fomento à pesquisa e à pós-graduação ficam autorizados a criar linhas de pesquisa e programas de estudo voltados para temas referentes às relações raciais e questões pertinentes à população afro-brasileira.


Mais segue uma linha de LeiÁurea do século XXI, pois este artigo 22 dá margem a entendermos que antes do estatuto instituições como UFRJ, Unicamp, USP, UFF, CnPq, Capes, Minc, Fundação Palmares e outras não podiam criar pesquisas ou fomentar estudos acerca de relações raciais. Mais utilidade teria se afirmasse que tantos % dos recursos federais investdos em pesquisas seriam OBRIGATORIAMENTE investidos em estudos das dinâmicas raciais ou temas correlatos.


Os artigos 23, 24, 25 e 26 não citarei, pois seguem o mesmo absurdo. Reconhecer o direito à manifestação de religiões afro-brasileiras é me chamar de burro por acreditar que estava em uma democracia laica que permitisse liberdade de credo. REAFIRMAR O ÓBVIO SE INSERE NA PRÁTICA DISCURSIVA DE NEGAR A EXISTÊNCIA DESTE ÓBVIO ANTES QUE FOSSE ENUNCIADO PELO ENUNCIADOR DA LEI. A linguística trabalha bem com isso. O artigo 27 é interessante, pois permite ao fiel de tradições afro ou indígenas faltarem ao serviço para cumprir rituais e depois compensar a falta. Muito bom!


O artigo 29 é eficiente em coibir o uso de mídias para discriminar negativamente os fiéis. De novo o artigo 31 segue o mais do mesmo. Me dá a impressão de que a proposta original seria de que os orçamentos fossem obrigados a prever recursos para implementar ações afirmativas. Mas provavelmente há algum deputado que odeia a palavra OBRIGATORIAMENTE, e a substituiu em todos os artigos pelo artifício “poderão prever”, “poderão apoiar”, “poderão poderão”:

Art. 31. Os planos plurianuais e os orçamentos anuais da União poderão prever recursos para a implementação dos programas de ação afirmativa


Entendo, pois, que não podia então o orçamento federal prever tais recursos exceto com a promulgação desta lei. No artigo 31, VII § 1º, 2º, 3º se repetem : O Poder Executivo fica autorizado a adotar medidas que garantam; os órgãos do Poder Executivo Federal que desenvolvem políticas e programas nas áreas referidas no § 1º ficam autorizados a garantir; O Poder Executivo Federal fica autorizado a adotar as medidas necessárias


Outra vez, vemos o mais do mesmo. Dados práticos, com percentuais, regras, e similares, nada!

A razão básica para o Estatuto ser tão vazio de propostas factuais e de possibilidades reais está no CAPÍTULO VI “Do Direito dos Remanescentes das Comunidades dosQuilombos às suas Terras” . Este capítulo contempla 4 páginas do total de 32 do estatuto. Contrapõe-se ao ridículo tamanho do CAPÍTULO VIII “Do Sistema de Cotas” , que não contempla sequer uma página inteira.


Cabe problematizar:

- o estatuto da igualdade racial é realmente proposto, no atual momento, com a real intencionalidade de melhorar as condições de vida da população afro-brasileira?

- o estatuto da igualdade racial no modo como será sancionado tem alguma possibilidade real de minorar os sofrimentos das populações às quais este se destina?

- ou o estatuto da igualdade racial demonstra a vitoria dos detratores da questão racial brasileira? Pois nenhuma das questões abordadas é específica. Smente a questão do acesso à terra e da desapropriação de terras em benefício de quilombolas possui regras claras, detalhadas, procedimentos e institui toda a normativa.


Em nossa análise, este estatuto é, hoje, uma grande resposta retrógrada às possibilidades existentes até então de negros quilombolas obterem acesso a terras. Grosso modo, possui muito confete, muita purpurina, e muitas construções linguísticas típicas de atendimento de telemarketing: o governo federal poderá fazer, poderá estar fazendo, poderá decidir, poderá propor, poderá aprovar, enfim...como sempre, o governo poderá fazer tudo.

Mas, quando, efetivamente, fará algo?

Este texto é uma abordagem para o estatuto. Foi redigido para incitar debate com a Dra. Elisa Larkin Nascimento (www.ipeafro.org.br).


Link
para o Estatuto:
http://www.cedine.rj.gov.br/legisla/federais/Estatuto_da_Igualdade_Racial_Novo.pdf

Abraços,

Breno Mendes

Geógrafo

brenomendes@gmail.com

http://poeticainculta.blogspot.com

http://www.brenographia.com

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

[BLOGGEIRA CONVIDADA] Ensinar o temor, medo, raiva e violência não é o objetivo escolar (Kelly Araújo)

[ATENÇÃO! ESTE POST NÃO FOI ESCRITO PELO DONO DO BLOG, E SIM PELA MOÇA DA FOTO, KELLY!] Trabalho em Mesquita e fui almoçar em uma de nossas escolas municipais. Já é sabido que nossas crianças vem de casa extremamente desvalorizadas, muitas vezes sem amparo emocional. São filhos de pais adolescentes, filhos desviados sem extrutura emocional para educar, amar, amparar, guiar para um futuro melhor. Nossas escolas por mais que tentem humanizar o Governo e implementar projetos sociais de alto nível e financiamento Federal,não conseguem alcançar o objetivo que deveria ser: EDUCAÇÃO E RESPEITO ACIMA DE TUDO.

Nossas crianças totalmente desprovidas de valores, acabam lesando um dos bens mais preciosos que é o conhecimento. Nossos mestres já não tão engajados e revolucionários perdem também o brio, a vontade de transmitir o lúdico, o futuro a garra e a vontade de ensinar, por tamanha falta de respeito. Hoje o mestre é xingado, desrespeitado, agredido verbalmente, moralmente e fisicamente e não se pode fazer nada. Deve-se recorrer, somente após a agressão ser concluída, caso contrário o Conselho Tutelar cai de pau encima do professor, que chega em casa e mostra a sua família a marca da revolta e da agressão. Muitos destes, mesmo sendo feridos desta forma, e tabém no bolso ainda lecionam de maneira objetiva e por amor á profissão. Agora o que dizer para uma criança que, conforme eu dizia no primeiro parágrafo deste comentário, que fui almoçar em uma escola municipal e tive a triste imagem de uma inspetora gritando com uma criança de 5 anos de idade:

"Você tá maluco? Eu vou TE LEVAR PRO CONSELHO TUTELAR!. VOCÊ QUER IR PRO CONSELHO TUTELAR?"

A criança só chorava. Ora! Dizer isto para uma criança de comunidade é o mesmo que dizer para um adulto q você o levará pra delegacia. Ensinar o temor, medo, raiva e violência não é o objetivo escolar. Mas com certeza este será um futuro adolescente problemático que terá raiva da escola e de seus mestres.

(Kelly Araújo "*kellyzinha Araújo*" )

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

(IN) Feliz dia do professor - A educação está muito sem educação!


Já fiquei com professora, aluna, já fui xingado por aluno, já me senti um lixo. Sou professor! Não sou Ronaldo, e não brilho muito no Corinthians. Ganho 600 reais brutos, enquanto um juiz federal substituto inicia ganhando R$ 19.955 reais e uns centavos. Me meto a dar aula em qualquer lugar, e cito aqui: Mesquita, Edson Passos, Morro Agudo, Jacarezinho, California, Quintino, Madureira, Niterói, São Gonçalo, Marechal Hermes, Magé. Mas gosto de ser professor!

Apesar das pessoas retardadas com as quais trabalhei, e outras muito malandras em sentido de serem amigas, sobrevivi, e hoje ainda tenho forçaspara entrar em sala de aula. Mas meu tempo está acabando.

Ontem fui chamado a atenção por estar na calçada fumando um cigarro enquanto não havia um aluno sequer na escola. Segundo meu supervisor, eu deveria ficar na sauna da escola, sentado fazendo nada. Qual a diferença entre dentro do portão e fora do portão? Para eles, muita! Qual a diferença entre um profissional e um cão de guarda? O salário e o medo de perder privilégios são algumas das diferenças. Cidadania...igualdade? No Estado, não há! Escolas são o reduto do preconceito.

Nas condições atuais, com este salário, este nível de alunos que foram passando de ano desde a alfabetização, sendo semi analfabetos em grande maioria, e com esta estrutura estatal viciada que prende direção e supervisão a cargos políticos cuja liberdade se resume a zero, eu não aceito mais dois anos nisso. Vou catar latinhas, é mais light do que o que eu passo!

Ano passado a esta época eu tinha 28 turmas, mais de 700 alunos. Devo ter lecionado a cerca de 5000 pessoas, e isso é um bom número. Pra mim já deu!

O professor radical se tocou...a educação não o quer. A educação está muito sem educação!
HOJE VOU TRABALHAR DE 13 A 22H, POIS O GOVERNADOR ACHA QUE MINHA VIDA É DEVERAS FÁCIL, E NÃO POSSO TER UM FERIADO QUINTA-FEIRA. TRANSFERIU PARA AMANHÃ. QUERIA TER ESSA DISPOSIÇÃO COM DEPUTADOS E COM A COMITIVA QUE FOI TOMAR CHAMPANHE EM COMPENHAGUE, NA ESCOLA DA CIDADE-SEDE EM 2016!

sábado, 3 de outubro de 2009

Semanário de um professor radical (nº2)

Segunda-feira fui trabalhar no IPEAFRO, e avancei bastante em minha tarefa no computador de Elisa. Depois, a noite, fui ao Califórnia, e dei aula de Matemática.

Terça-feira acordei com a diretora do Colégio Progressão ao telefone, me procurando, perguntando se eu não daria aula lá. Mas expliquei que fiquei toda a semana questionando se eu deveria ir ou se o professor estaria de volta ao trabalho. Ela só dizia: vou te ligar...Não ligou! Não fui! Ai ai ai ui ui! Não fui ao IPEAFRO, saí de casa direto pro Califórnia. Muito conteúdo pra dar. Plano carteziano é complicado de entender e explicar. Expliquei y=ax. Os alunos não queriam parar de falar, e eu expliquei que precisaria dar aula até mais tarde graças ao tempo que consumiram em conversas me interrompendo. Saímos as 22h da escola.

Quarta-feira não fui ao IPEAFRO. MInha diretora do Pierre Plancher me ligou...descobri que roubaram a senha de meu orkut de professor e começaram a mandar sacanagem e cantadas para alunas. Cantadas feias, ainda por cima. Denunciei ao Orkut e ppedi exclusão, e sumiu o perfil, menos mal. Ela me dispensou de trabalhhar quinta-feira, uhuuu!Fui lecionar no Califórnia. Dei y=ax ; y=ax+c e ax+by=c. Acreditem se puder, este conteúdo é apaixonante. É legal ver como que acontecem as relações no plano cartesiano. Liberei as 21:40.

Quinta-feira fui ao IPEAFRO, e consegui fazer o batch no Photoshop Cs3, redimensionando, corrigindo cores, e salvando em JPEG em outra pasta. Claro que o batch tem uns problemas, como alguns TIFF que se recusaram a serem salvos em JPEG. Mas sacaneei o Ps: abri um arquivo JPEG qquer de dimensões enormes, apaguei seu conteúdo, abria o TIFF rebelde, selecionava todo o conteúdo,copiava, via as dimensões da imagem, então redimensionava a imagem em branco, depois colava o conteúdo copiado. Enfim, salvava em JPEG com o nome que copiei do TIFF rebelde. Nada mal, computador burro a gente tem que ser mais esperto que ele. Por fim, tive uma reunião muito boa com Elisa Larkin, minha chefe e ídolo intelectual. O assunto foi idéias para o site do IPEAFRO. Ela gostou das idéias, percebo. Adoro pensar que sou útil a ela. Enfim, fui dar aula.
Cheguei no Califórnia, e estava bastante animado ensinandoMatemática, reaolução de sistemaspelo método da adição e da substituição. Eles tem dificuldades com sinais, com frações e divisões. Não entendem muito bem outros aspectos funamentais, mas quem tenta prestar a atenção consegue. Lamentável é que eles não estudam! Mesmo que libere-os mais cedo, eles não abrem o livro pra ler em casa. De que adianta eu exibir o vídeo, problematizar, lermos imagem, eu explicar os exemplos do livro, resolver coletivamente, se ninguém tenta fazer nada em casa? Estava dando aula e chega meu supervisor, que após perguntar como estava a questão do processo contra o aluno, me informou que marcará uma reunião, e que minha situação está "bastante difícil", por minha incompatibilidade com direção e alunos. Incompatibilidade? Se dou boas aulas, sou dedicado e atencioso, preocupado com eles, incompatibilidade significa dizer que o Estado não quer isso. Sexta-feira foi feriado no Rio de Janeiro, devido a escolha da cidade-sede das Olimpíadas 2016.

Mensagem da semana: "Professor Breno, o palavrão se tornou comum em todos os espaços da sociedade...se todos os professores chamassem a polícia quando seus alunos lhe xingassem, imagina a confusão que seria! Você acha que eles parariam de xingar?" (Diretora Marli - C E Califórnia)

Preciso responder? Eu me questionava quem eram os culpados pela perda dos limites dos jovens atuais, pelo desrespeito aos professores...parece que descobri! Trabalhar me causa perseguições e acusações deque agi errado. Bem vindos a uma sociedade mesquinha, e suja.

Aguardemos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O caos da educação pública no Rio de Janeiro

Sou professor do estado do Rio. Por favor, não ria de mim! Há muito que penso em escrever um post que argumente sobre as quimeras destte sacerdócio que congrega professores, orientadores, pedagogos, coordenadores, diretores, serventes, merendeiras, inspetores, porteiros, secretários e afins. Enfim, todos estes profissionais que, escolhendo ou não, estão diretamente ligados ao cotidiano escolar do estado do rio de janeiro. A última novidade é o salário que aumentou sem aumentar, piorou piorando, e acabou nos empurrando goela abaixo uma obscenidade.

Na última semana, a cena de policiais apontando armas para professores desarmados em pleno estado democrático de direito foi mais um sinal claro da real vocação de nossos governantes e agentes de segurança: manter a ordem no caos.

Do início. O casal Garotinho, quando governava o estado, criou um tal de Nova Escola, um programa de quantificação da qualidade do ensino das escolas. Funcionava assim: as escolas passavam anualmente por uma avaliação da qualidade do ensino, a qual servia como base para gratificações salariais para os professores. Ou seja, se a esola fosse bem avaliada o professor receberia até 500 reais a mais mensais, e se fosse mal avaliada não ganharia nada. Seguia a linha dos governos demagoos que buscavam a falsa qualidade e o eterno cala a boca com migalhas em dinheiro. Este plano criava professores que trabalhavam a mesma coisa mais recebiam renda diferente. Algo ilegal. Até hoje é assim. As fotos deste post foram retiradas do orkut de Renata.

O programa foi descontinuado anos atrás, e nao teve mais avaliação das escolas, logo, eu que entrei em 2008, assim como outros profissionais que entraram nos últimos concursos não recebem um centavo sequer de Nova Esmola. A luta e reivindicação dos professores sempre foi por incorporar o Nova Escola pelo teto (500 reais) ao salário de todos, não só de alguns. Esta foi a promessa do então candidato Sérgio Cabral, eleito em 2006.

A polêmica começa desde o ano passado, 2008, no qual o governador Sérgio Pinocchio Cabral afirmou estar "estudando" a viabilidade econômica da incorporação do Nova Escola a todos os professores. Viabilidade econômica para aumentar 500 reais do saláio dos professores estaduais que recebem o segundo pior salário do Brasil mesmo estando no segundo estado mais rico? Valeu, tio! Esperamos, porém.

Mensalmente o jornal O DIA veio trazendo notícias falaciosas de que a incorporação viria, que os professores teriam aumento, que nós estávamos comemorando. Semanalmente as notícias traziam informações de que nós, os que pedem esmola, não teríamos mais do que reclamar. Afinal, pra quem recebe 607 reais ganhar mais 500 realmente é uma boa. Mesmo assim ganharíamos menos da metade do salário da prefeitura de Duque de Caxias. uh huuuu!

Mas veio assim: 435 reais,parcelados em 6 anos, igual carro de pobre, sacas? Carro velho, pq quando bater 2015 a inflação terá comido quase todo o meu aumento. E não feliz com isso, o Cabral ainda nos sacaneou mais: propôs reduzir o insterstício de classe. Como?

A cada 3 anos, o professor do estado ganha 12% de aumento. A gente entra na Classe 3, e vai subindo. Isso se chama plano de cargos e salários, eé definido por lei. É uma conquista histórica domovimento sindical em negociação com a classe dirigente. Cabral forçou no projeto de nosso aumento diminuir o aumento de 12% para 7,5%. Por que? Porque para o governador somos o setor do funcionalismo público que mais ecebe aumentos, e ele teria que corrigir isso. Anunciou isso ao vivo, no RJTV.

Pensem comigo. Se recebemos muito mal, iniciando com apenas 600 reais, é mais do que justo que tenhamos 12% de aumento. Considero pouco, pois tinha que ser 100% após três anos,para ganhar 1200 reais ao menos! Governador safado, me cansa pensar em ti.

Foi hábil ao dividir a categoria com as duas propostas. Pois se só oferece os 435 do Nova Escola, este aumento não passa. Mas ao ameaçar os 12%, fez com que todos nós fossemos contra este item, e assim ele cedeu nos 12%, mas conseguiu vitória plena na incorporação do Nova Escola em seis anos. Ele sabia que não derrubaria os 12%, e por isso o propôs.










Em resumo, estou fodido e mal pago. Meus alunos não respeitam sequer os pais, meu plano de saúde, da APPAI, associação dos professores públicos do estado do rio, ironicamente não cobre psicologia. Ou seja, recebo pouco, trabalhomuito, sou desrespeitado, e não posso ter um psicólogo.

Na última assembléia, realizada na quinta feira dia 10-09, na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), foi decidido continuar a greve vigente aomenos até esta terça feira, dia 15, quando estaremos em passeata rumoa ALERJ.Veja fotos da confusão e violência policial da semana passada: http://oglobo.globo.com/rio/fotogaleria/2009/9820/

Obrigado, Deus, por me escolher para sofrer. Espero que um dia a data de meu aniversário, 12 de setembro, seja celebrada pelos povos como o nascimento de um filho de Deus que veio à Terra e pereceu ensinando e se fodendo. Acredito na educação, mas não nesta educação que nos propõem a fazer como voluntários explorados! Abaixo tem a carta de promessas do candidato Sérgio Cabral. Caozeiro fodido! Fui

domingo, 30 de agosto de 2009

Amizades perfeitas, cervejas e crise educacional. A moda é ficar estressado!

Após beber e beber e beber, a gente fica meio sem noção de tempo e espaço, e começei a escrever este texto ontem, sábado, a 15:45. A solução é twittar, blogar e atualizar fotolog. Sexta foi um dia longo. Ao menos terminou de forma ótima, como mostram as fotos deste post, de minha noite na Lapa e no Circo Voador. De cima para baixo, as seguintes fotos: Fabão, Stallone, Salgueiro e eu, no Tangará, Centro do Rio; Clarissa, Gabi e Aline, no Circo Voador; e Raquel, também no Circo Voador, show do Fino Coletivo + Eddie.

Dei aula sexta-feira a tarde, coloquei uma aluna para fora de sala, me estressei pacas. Depois, uma reunião meio...nonsense com minha diretora. Entendo ela, mas não concordo. Não concordo com a apatia educacional, com o sono negro e mórbido que reluz na escuridão das escolas.

Explico: Meus alunos tem entre 12 e 15 anos, e estão na sexta série do ensno fundamental, antigo primeiro grau. Dou minha aula sabendo que o meu conteúdo é fundamental para suas vidas. Para quem não sabe,na sexta série, ensinamos os temas de Brasil, referentes aos estudos de população, formação histórica, território, diferenças entre campo e cidade e adentramos nas especificidades de cada região (Norte, Nordeste, Sudestes, Sul e Centro-Oeste). Imagine se você não soubesse que o estado da Bahia se localiza no Nordeste, ou se não soubesse que São Paulo fica ao lado do Rio de Janeiro, e que a Floresta Amazônica não cresce perto de Santa Catarina. Inviável ser cidadão nestas condições.

Porém, sempre há um porém. Os alunos não desejam o conhecimento. E eles escolheram a vantagem, o privilégio, seguindo a Lei de Gerson, onde este queria sempre levar vantagem em tudo. Se eu pedir para um aluno fazer um trabalho, ler um texto ou parar de falar, ele não o fará. Mas se eu pedir para plantarem bananeira e prometer um ponto na média, eles o farão. Quiçá, se o Bin Laden fosse professor da rede pública do Rio de Janeiro e prometesse pontos na média caso os alunos se aventurassem em atentados terroristas contra edifícios públicos, os mesmos aceitariam na hora, sem figurar em sua mente que suicida significa que ele morrerá e não precisará de ponto nenhum. Afinal, eles não sabem interpretar textos de forma minimamente aceitável mesmo.

O porém é: Todos querem tirar o corpo fora. O aluno nem sabe o que é ECA. Talvez muitos achem que isso é apenas uma palavra de nojo para coisas como um monte de bosta fedida na calçada: Ecaaaaa! Mas ECA é a abreviação usual para Estatuto da Criança e do Adolescente. Aquele conjunto de leis que estabeleceu o famoso: "Perae, puliça! Eu sou di menor!".

O ECA estabelece que os jovens tem direitos. Mas também deveres, e disso não se lembra. Quem me defende de aluna de 12 anos e mais de 75kg que tenta me agredir e humilhar em sala de aula? Quem me defende de aluno que me mande à merda? Para a puta que o pariu. Ninguém. Vivemos um estado psicológico e policial. Ao mesmo tempo que fiscalizamo-nos uns aos outros, defendemos todas as atitudes alheias com argumentos de estar estressado, ou sob trauma.

Em 2008, um aluno que dava show em sala de aula de egoísmo ao procurar aparecer a todo o momento com bolinhas de papel ou gritando, cantando, batendo na mesa, perguntei se ele se achava uma estrela para querer aparecer deste modo. O infeliz se levantou e argumentou que se posso questionar se ele é estrela, pode me perguntar se eu quero uma banana, já que sou preto, e pareço um macaco. Diante da postura da dirreção (que não fez nada), afirmei que o processaria por racismo, mas resolvemos tudo após uma reunião com a mãe do menino que afirmou o que? Que ele está com dificuldades de se adaptar à separação dos pais. É trauma! De novo?

Pois bem, todo aluno meu que expulso de sala ou chamo o responsável está sob trauma. A mãe separou,amãe é piranha, o pai é traficante, o pai sumiu, morreu, nem a mãe sabe quem é o pai, a avó morreu, o cacchorro morreu, ou a aluna foi mãe aos 13 anos e não consegue conviver com isso. Não há reclamação que eu faça à minha coordenadora e diretora que não venha com um "mas professor, você tem que ter paciência, entender que..." . Entender o que? Que eu entendo eles e eles não me entendem? Não é argumento vazio pensar que aos 12 anos, se meu pai fosse chamado à escola, o simples medo de apanhar me fazia virar um santo por ao menos 3 meses. Detalhe, eu nunca apanhei, mas os olhares de meu pai e as palavras de minha mãe faziam um efeito danado.

As mães que chamo se dividem em categorias cristalizadas:

- A ex piranha: Mães todas tatuadas, com trajes evangélicos esaia até o calcanhar, que me encontram comBíblia na mão, a mesma mão tatuada com caneta Bic de presídio. Afirmam que tudo melhorará, pois vão enfiar a porrada em seus filhos;
- A ainda piranha: É aquela mãe que chega me dando mole, comum lindo par de seios a mostra, um belo quadril, e discurso conciliador;
- A turista: Parece que nunca viu o próprio filho, pois tudo o que falo do mesmo a mãe rechaça, a ponto de eu me perguntar: Como pode ser tão cega? Normalmente, vem com o argumento de que o professor não passa matéria e tem pinimba pessoal contra o aluno. Mas nunca sabe nem quantas matérias o filho tem;
- A que sabe: Esta é raríssima, e sabe exatamente a peça que é seu filho. Afirma que vai endurecer, cortar privilégios e lutar para não ser chamada outra vez. É respeitosa, educada, vai de roupas contidas, e fica feliz em conversar com o professor.

Mas, mesmo assim, para a direção e coordenação, eu sOu o cuLpADo. A solução? Vou casar com uma mulher que me arrume trigêmeos e um par de chifres. Assim, eu também terei muitos traumas e razões para ser um mau professor e pouco melixar com os alunos. Afinal, percebo que se preocupar com eles e sempre chamar os pais para colaborar com a educação dos filhos é visto, de maneira global, por sociedade e direção, como uma falha conceitual minha. Tenho que ser um tÓteM mágico de transformação de bárbaros em seres civilizados. Que voltem os jesuítas!

Poesia para agitar o espírito:

NÃO TOCAR NA TERRA
Não tocar na terra, não ver o sol
Nada mais a fazer a não ser fugir, fugir, fugir
Vamos fugir, vamos fugir
Casa no topo do monte, a lua jaz quieta
Sombras nas árvores testemunhando a brisa selvagens
Anda, querida, foge comigo
Vamos fugir
Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir
A mansão é amena no topo do monte
Ricos são os quartos e os confortos lá
Vermelhos são os braços de luxuosas cadeiras
E não vais saber nada até entrares lá dentro
Corpo morto do Presidente no carro do condutor
O motor funciona a cola e alcatrão
Anda connosco, não vamos muito longe
Para Este conhecer o Czar
Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir
Alguns foras-de-lei vivem junto ao lago
A filha do ministro está apaixonada pela serpente
Que vive num poço junto à estrada
Acorda, rapariga, Estamos quase em casa
Sol, sol, sol
Queima, queima, queima
Lua, lua, lua
Apanhar-te-ei em breve... em breve... em breve!
Eu sou o Rei Lagarto
Posso fazer qualquer coisa

JIM MORRISON

Dê Jim Morrison às crianças!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Ser professor no Rio de Janeiro: Maldição ou passaporte pro céu?

O cotidiano do professor pode ser resumido a uma palavra: estressante. Se bem que esta palavra foi tão utilizada em tantos momentos nos últimos anos que se desgastou. Posso dizer que viver é muito estressante. Mas morrer não deve ser menos estressante. Eu imagino o inferno com um lugar no qual você tenha 5 refeições diárias maravilhosas, regadas a fanta laranja, no qual você tenha que passar a eternidade dando aulas de segunda a segunda, das 7 e meia da manã às 22 e 40 da noite, e que possua como clientela crianças e adolescentes entre 11 e 15 anos, escrevendo errado "coando" (quando), "ospitas" (hospitais) e outras pérolas do neologismo estudantil.

Só mesmo uma prisão com tratamento 5 estrelas e a obrigação de lecionar todos os dias ininterruptamente pode ser tão cruel quanto o inferno. A rede estadual do Rio de Janeiro se aproxima a isso. Minha aluna do ensino médio não sabe identificar o que seja um verbo numa oração. Pois é. Ensino médio, 19 anos, e não sabe o que é verbo.

E agora vim dar aula nesta turma, denominada "Projeto Autonomia", que se trata numa parceiro entre o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a Fundação Roberto Marinho, no qual estudantes muito atrasados (nome certo é com "alta defasagem idade-série) fazem este supletivo dos infernos no qual um único professor (eu, por exemplo, sou professor de Geografia), leciona todas as disciplinas. De Física a Música, de Português a Química, de Artes a Religião. Exibo um vídeo, faço dinâmicas e avalio. Nem me perguntm se concordo com isso. Sou funcionário público e preciso de meu salário. Terminam o Ensino Médio em 1,5 ano. Absurdo? Outra hora conto o resto.

Sou chamado de professor com chip. E agora desligo meu chip, daria aula de PortUguês, porém não compareceu nenhum aluno. Vou desligar meu laptop, ir para minha casa, ligar o chip da cerveja e tomar uma gelada no bar! Até lá!

Confesso que nestes dias ando muito empolgado com a idéia de ir a Recife no 29º ENEPE - Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia, que será realizado entre 19 e 25 de Julho no Recife, Pernambuco. Ok, diriam que não sou pedagogo nem estudante universitário. Mas se sou professor de Geografia, devo manter o meu "tesão pedagógico" bem no alto, para que consiga encontrar razão para justificar o injustificável: o fato de ainda acreditar que lecionar podeser uma atividade saudável nos dias atuais.
 
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