terça-feira, 8 de abril de 2014

Nenhuma Mulher merece ser estuprada: Na sociedade consumista, ligamos as TVs para consumirmos uns aos outros

Há uma forte associação popular entre atos feministas e bissexualidade, lesbianismo ou anti-homem. Frutos da ignorância, estes pensamentos limitam o alcance da população às vozes, mensagens e discursos existentes neste campo da arena simbólica que significa a vida cotidiana. Há então a necessidade que, para ler e compreender o tema, os indivíduos estejam despidos destas meias-verdades.

Amanda Moreira

Só sabe o que é sofrer, quem sofre. Não há como imaginar o que é mente, o que é identidade, o que agride à sua existência mais profunda, que é a mental, conjugada à carnal.

O estupro é a materialização de uma sociedade consumista, na qual ligamos as TVs para consumirmos uns aos outros. 

Se a repórter é feia: Cruzes, troca de canal! O mesmo para obesos, negros, e mulheres que não expressem sensualidade. A notícia não importa tanto quanto a coxa. Poxa, a moça a estudou anos com afinco, para vencer numa savana que é o mercado de trabalho. E este mercado também é fruto e frutificador do consumismo de corpos. Fico pensando onde trabalham as mulheres que não são lindas e são obesas dos cursos de jornalismo, porém que são melhores profissionais do que as bonitinhas da TV. Rádio, internet, jornais, redações e revistas. O que isso tem a ver com o estupro? 

O consumo penetra carne adentro, e aquele que possui comida, lar e roupas não se contenta. Deseja o de marca. Deseja entrar no universo dos que podem. Crê na igualdade entre poder de compra e poder ser. Vivem em um momento decadente da história, no qual visam ter para ser, ser para ter, e esquecem que apenas reproduzem e são reproduzidos. 


De modo geral, nós homens, ao sairmos nas pensamos que as mulheres precisam ser consumidas. Pois o tênis tem um buraco e precisa ser preenchido por meus pés. A calça sem minhas pernas é inútil, e a cueca sem meus órgãos não tem de quê em existir. Um "objeto" rebolativo, e se rebola me deseja, se deseja, vou dar o que me pede (ofensas gravíssimas, ou as famosas encoxadas em coletivos lotados) sem imaginar que seus quadris assim o fazem naturalmente, por características fisiológicas e ósseas. Somos diferentes. 

Porém a diferença não nos une como deveria. Somente nos distancia, por ignorarmos que entre nossos pênis e bocas existe um umbigo que é prova clara de que saímos da intimidade de uma mulher, e todas estas devem ser respeitadas. Mas isso não importa! O objetivo de rebolar é, pois mostrar as nádegas, que estão dentro de vestido justo porém na altura do joelho. 

Ela quer ser vista, quer ser abusada. O decote moderado mostra seios. E seios, mais do que tudo, merecem e devem ser chupados como tangerina. Afinal, não perguntamos às tangerinas se assim desejam ser defloradas. Esquecemos do papel do seio, que é o de dar nome a nossa família (me perdoem, não sou bom de taxonomia?): Mamíferos. O seio nutre, protege e cria ligação insuperável entre mãe e filho. O seio faz com que o mundo exista, pois se somente babás e vizinhas cuidassem de nossos filhos e os amamentassem com mamadeiras, a terceira guerra teria começado. 

O vestido continua sendo alvo. A calça justa continua sendo alvo. Exibe contornos do órgão, mas na verdade o problema não é o contorno dos lábios da boca com batom carmim, ou dos lábios que não usam batom, que chegam desavisados e passam na calçada, com o corpo perfumado.

O problema é a covardia, que aliada à incapacidade de ser o que se sonha e enxergar o mundo como é, se esconde no ser o que se pode. E no mundo consumista de sonhos e pessoas, a mulher violentada que se expõe à justiça será escondida bem atrás da prateleira simbólica do mercado de carnes nobres, pois humanas. Carnes com sonhos, carnes livres, carnes que merecem respeito, e que pensam.

Múltiplas violências. A mulher nasce em um mundo que exige sua exposição e sensualidade para se afirmar mulher, e é atacada sob argumento da inevitabilidade de resistir racionalmente à tentação de "vê-la e não come-la", como um rotweiller faminto destroçando um coelho. Ao denunciar a violência sofrida, o silêncio, os julgamentos e condenações não judiciais, mas morais, causam um novo estupro moral de si e dos seus.

O suicídio é, muitas vezes, o único calmante para aquelas que viram e sentiram em seus próprios corpos o consumo de si mesma como uma não-coisa, visto que coisa é reciclada, e a mulher estuprada é descartada. A verdade é que cada vez mais temos provas de que a sociedade contemporânea, ancorada no consumo de tudo e de todos, vê as possibilidades de resgate moral e ético ficarem mais difíceis de serem bem sucedidas. Famílias, essa culpa é de vocês, com o mercado midiático que nos invade, e leva muito mais do que o dinheiro nos bolsos. Leva e traz valores. Leitores e expectadores, essa culpa é nossa.

Ato dos 35%, em Copacabana, 06/04/2014.
Vida longa às feministas, aos movimentos negros, indígenas, de expressão sexual e de combate a quaisquer violências aos seres. Não importa se são 65% ou 26%. Se um homem pensar assim, há pelo que lutarmos.


Homo sapiens sapiens. Temos obrigação de pensar sobre isso.

Fotos obtidas no movimento Nenhuma 


Breno Mendes
Geógrafo
Educador da rede municipal do Rio de Janeiro
Estudante de Direito

Ensinar e aprender, o inebriante perfume do sonho


Em 05 de Dezembro de 2013

A última mensagem de hoje, após doze tempos de aula foi: A História acontece diariamente, vocês precisam estar preparados para ver isso acontecer e para escreverem a história.

Agora vamos voltar ao início.

Nelson Mandela morreu. E com ele os especialistas parecem possuir duas certezas fortes:
1. Mandela foi incrível e revolucionou a prática política de todos os povos ou grupos que estivessem ou estejam alijados do poder;
2. Não haverá novo indivíduo com estes itens em sua biografia que, ao invés de torná-lo insignificante, se torne indignado. Chegamos ao fim da era dos sonhos.

Toda precipitação, seja chuva, orvalho, neve ou granizo, precipita, deixa molhado, e depois evapora. Talvez a opinião posta no item dois, por ser precipitada, tenha o mesmo destino, e se evapore para que nunca mais seja lida, sentida, ou vista. Os sonhos não morrem jamais.


Hoje foi o primeiro dia de minha vida sem Mandela, e precisei de horas para agrupar os materiais de minha vã existência, para entender que a vida deveria continuar.


E ao exibir o filme sobre sua vida, um novo líder ergueu-se, e disse: Eu acredito! Eu não aceito! Eu me revolto!

Meu aluno, nosso aluno.
Meu futuro Mandela! Ou Martin? Ou Malcomm X? Ou será inédito?

Um abraço, forte!

Seu professor!

Obs: E pensar que alguns me vêem como um professor descompromissado...meu compromisso é com eles! Não com direção...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O fim? Não...o recomeço! Fui um militar, e para mim, já deu. Fui!

"Não sou o movimento negro
Sou o preto em movimento
Todos os lamentos (Me fazem refletir)
Sobre a nossa historia
Marcada com glorias
Sentimento que eu levo no peito
É de vitória" (mv bill)



Há decisões que os Homens devem fazer.
Há Homens

Há decisõesHá o que haverHá o e que fazer
Com certeza existem mais "coisas" e "coisos" merecedores de serem acompanhados do verbo "haver".

Mas nada há de mais sublime do que a liberdade.
Não há liberdade.

Por isso, vivo num mundo quase sublime, mas jamais terei a perfeição da sensação. Sei o que é ser quase quase, mas nada mais do que isso.

Há a minha quase liberdade.
Sou quase livre.

Dentre as opções que minha classe social me permitiu apreender no campo dos conhecimentos escolares cultos, eu pude ser "livre" para escolher entre algumas carreiras: geografia, biologia, pedagogia, letras...sociologia...e...putz, só lembrei destas.

Fiz Geografia. E dentre as possibilidades limitadas que minha área de estudo me ofereceu, consegui ser "livre" para...ser professor de...Geografia!Pois bem. Nesta minha "liberdade", pude ser livre para "escolher" me vender para colégios...horríveis, e outros piores. No meio termo estavam os péssimos. Aqueles que você vê no 2º andar sobre o acougue do bairro, subindo aquela escada íngreme a beça e que te faz desistir de perguntar sobre "planejamento pedagógico".

Ainda sendo “livre”, ou quase isso, fui vendo que o´s colégios privados se repetem.
Na verdade são tais quais aqueles agentes clones dos filmes Matrix, lembram? Você começa acreditando que são diferentes mas...quando os olha outra vez, se tornam a mesma figura.E, acreditem, sua péssima qualidade faz o mesmo mal quanto as pistolas dos agentes da Matrix.Me sinto um NeYo!Não o rapper beiçudinho, mas o do filme.Tive que conhecer o outro lado da moeda para descobrir que ao invés de moedas de dois lados, o mundo se constitui em um pequeno globo de borracha que é equilibrado no focinho de um porquinho adestrado se equilibrando com patins sobre uma bola de boliche.

Estamos na mesma.
Me senti “livre” quando “optei” por me tornar professor concursado do Estado, ganhando 540 reais. Que liberdade!!!

Depois, quando o Estado me ligou me dando a “liberdade” de lecionar Física, Matemática, Espanhol, Inglês, Química, Artes, Religião, outras disciplinas e até...Geografia para um projeto da Fundação Roberto Marinho, me senti “o escolhido” da Matrix. Eu era “livre”.

Eu era “livre” para fingir que o sistema funcionava.
Eu era um Pinocchio. O sistema me contaminou, me drogou, entorpeceu e me levou a crises existenciais, que me fizeram abrir processos contra diretoras, coordenadoras, reclamar com a Fundação, com o coordenador da Mteropolitana, a...chamar a Polícia na minha escola. Por ter sido ameaçado e ofendido por um aluno maior de idade.

Tudo isso para...me sentir “livre”.E livremente fui chamado de louco por diretora, por superiores, por querer o certo...me disseram “é só fingir que dá aula e a gente te paga, porra! Pra que inventar caso! Eles querem diploma, dá isso a eles!”

Ah, eu era livre, sim!Ao menos fiz a monografia que eu QUIS, estudei o tema que quis, abri mão de orientador, fiz 154 páginas de algo que me limpou o sangue negro, a alma, enegreceu minha convicção de ser um preto em movimento...glorificou minha história.

Minha pós seguiu o mesmo caminho, e nisso, fui trabalhar no IPEAFRO.
Lá, conheci Abdias, Elisa, Clícea, Carlos Henrique.
Ali fui feliz...

Ali me apareceu a oportunidade de...me tornar oficial da Marinha.Mas...eu?Marxista, cabeludão, do contra, é...isso mesmo.Sobre a Marinha muito tenho a escrever, ainda. Não escreverei por ainda ser militar da FAB.

Pedi para sair, em Outubro de 2011, pois havia passado pra Oficial da Força Aérea Brasileira.

E achando ainda que sou “livre”, ao mesmo tempo estive tentando o concurso para Professor I 40H de Geografia, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

Passei! Em primeiro na minha coordenadoria, em 3º no geral, para mais de 3200 professores de Geografia que se candidataram.

Opto, pois, neste momento, após muito avaliar prós e contras, por dar por finalizada minha experiência como militar brasileiro. Ao menos, sou “livre” para tal.

Aprendi (junto aqueles que um dia espero que, inicialmente, reagirão de modo violento à implantação de uma nova ordem psicosocio-política que pretendo plantar nas escolas públicas) a desenvolver habilidades que me levarão ao exercício de liderança mais qualificada para uma revolução na qual, sinceramente, eu tenho que acreditar.

Me pensei “livre” para fazer tantas opções, tantas mudanças, tantas ousadias e realmente ter feito História por onde caminhei por ser, “livre”. Eu não o era, mas eu criei uma liberdade que nenhum Estado ou agente armado pode me tomar: A LIBERDADE DE PENSAR!

Adepto do livre pensar, ao invés de me ver PRESO ao destino manifesto de ser o pobre coitado e infeliz professor de Geografia preto e pobre carioca, me construí forte e relevante, ainda professor de Geografia, preto, carioca, de renda média.

Eu criei minha liberdade...a partir de uma escolha tão...”boba”, que fiz em 2001: fazer Geografia.

Sinceramente, não imaginava ter vivido um milésimo de tudo o que vivi, até hoje. Passar por duas Forças Armadas, ter dado aulas em mais de 10 municípios do Rio de Janeiro, mais de 30 escolas (creio que 41), e ter visto o que vi, aprendido o que aprendi, e ensinado o que ensinei, com atos, palavras e sentimento (e crítica), me tornaram livre.

Me ensinaram a ser Homem, e sou um Homem;
Sei que existem decisões, e as tomo;
Sei que existem coisas, e as interpreto e classifico; assim, as utilizo ou não;
Sei que o verbo “haver” tem muito mais coisas a colocar em minha vida do que jamais imaginei.

Volto, e agora, mais forte, convicto de minas crenças, enriquecido de esperança num mundo desesperançoso, venho para cumprir minha real missão: educar crianças, e ser educado por elas.

Sou um homem hoje muito triste pela decisão que tomei, muito mesmo, escrevo isso com vontade de chorar. Porém muito forte pelo que o futuro me reserva.

Afinal, é mole ser bom professor em um ambiente perfeito, com alunos selecionados, tudo no lugar e hierarquia manifesta.Eis que eu SEREI bom e socialmente relevante no oposto. É o meu desafio.

Obrigado UERJ, FFP, IGEO, Andrelino, Catia Antonia, Renato Emerson, Tâmara Tânia, Abdias, Elisa Larkin, IPEAFRO, Cláudio Barbosa (R.I.P.), Emanuel Carneiro (R.I.P), Regina, Roberta, Risla, Tenentes: Adolpho, Pedro Paulo, Claudia, Eveline, Aline, Barretinho, CC ANTUNES (comandantê), amigos da FFP, Bruno, Barata (traíra) e todos aqueles que aqui estiveram.

Vamos fazer o melhor hoje. Porque semana que vem...pode nem chegar!


O Preto em Movimento – MV BILL

Não sou o movimento negro
Sou o preto em movimento
Todos os lamentos (Me fazem refletir)
Sobre a nossa historia
Marcada com glorias
Sentimento que eu levo no peito
É de vitória
Seduzido pela paixão combativa
Busquei alternativa (E não posso mais fugir)
Da militância sou refém
Quem conhece vem
Sabe que não tem vitória sem suor
Se liga só, tem que ser duas vezes melhor
Ou vai ficar acuado sem voz
Sabe que o martelo tem mais peso pra nós
Que a gente todo dia anda na mira do algoz
Por amor a melanina
Coloco em minha rima
Versos que deram a volta por cima
O passado ensina e contamina
Aqueles que sonham com uma vida em liberdade
De verdade
Capacidade pra bater de frente
E modificar o que foi pré-destinado pra gente
Dignificar o que foi conquistado
Mudar de estado, sair de baixo
Sem esculacho é o que eu acho
Não me encaixo nos padrões
Que vizam meus irmãos como vilões
Na condição de culpados
Ovelha branca da nação
Que renegou a pretidão (Na verdade é que você...)
Tem o poder de mudar ' RAPÁ'
Então passe para o lado de cá, vem cá
Outra corrente que nos une
A covardia que nos pune
A derrota se esconde no irmão
Que não se assume
Chora quando é pra sorrir
Ri na hora de chorar
Levanta quando é pra dormir
Dorme na hora de acordar
Desperta
Sentindo a atmosfera, que libera dos porões
E te liberta (Sarará criolo...)
Muita força pra encarar qualquer bagulho
Resistência sempre foi a nossa marca, meu orgulho
É bom ouvir o barulho
Que ensina como caminhar (Eu estou sempre na minha...)
Não vou pela cabeça de ninguém
Pode vir que tem
Agbara, Ôminara, Português, Faveles ou em Ioruba, Axé
Pra quem vai buscar um acue
E deixa de ser um qualquer
Já viu como é
Preto por convicção acha bom submissão
Não, da re no Monza e embranquece na missão
Tem que ser sangue bom com atitude
Saber que a caminhada é diferente pra quem vem da negritude
Que um dia isso mude
Por enquanto vou rezar pro santo
E que nós nos ajude

sábado, 19 de junho de 2010

Lembranças de uma infância banal: como nasce um professor do futuro

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara
(José Saramago. Ensaio Sobre a Cegueira)

Diversos motivos explicam o fato de eu ser professor de Geografia. Diversos momentos explicam meu modo de lecionar. Diversos processos explicam o que ensino. Diversidade espaço-temporal-simbólica é uma característica de minha vida e, acredte, da sua.

Leciono Geografia, e buscando em minha infância lembro de passagens que antecipavam minha necessidade brutal de conhecer mais e mais o mundo. Acordava sempre para ver Globo Ecologia, Globo Ciência e Globo Rural. Eu adorava saber o preço da saca de café conilon, e da arroba do boi no Mato Grosso do Sul. Entender como a poluição se concentrava na atmosfera de São Paulo me dava frio na barriga e excitação pelo tema. Quando eu lia o jornal, só me interessava pelas partes de Esportes e Economia. A última me rendia longas conversas sobre política econômica e industrial no Brasil e noutras partes do globo. Mas eu também brincava, jogava bola, rodava pião, andava de bicicleta e me ralava todo caindo no chão, andei de skate, ia a praia, passava as férias de Julho e fim de ano na casa de meus tios Walmir (in memoriam) e Rita. Eu gostava de estar num bairro diferente. Me fazia bem o novo.

Organizar-se já é de certa maneira, começar a ter olhos
(José Saramago. Ensaio Sobre a Cegueira)

Quando era época de Copa do Mundo, comprava as revistas da Copa, e nelas encontrava informações sobre os países participantes: idiomas falados, religião, culinária, população e os diferentes tipos de mulheres bonitas de capa país eram a cereja do bolo chamado Copa do Mundo. Eu queria ir para a Holanda. As meninas holandesas que apareciam nas filmagens de torcida eram...ai...incríveis. Ainda são!

Aí eu me dedicava a ver semelhanças dos nomes dos jogadores de cada país, e descobri que, pelas bandas da Holanda, os homens costumavam se chamar "Von", "Van". Enquanto outros países possuíam nomes muito próximos, me questionava o por quê do Brasil não possuir um padrão: Careca, Romário, Bebeto, Dunga, Ronaldo, Mauro Silva e Zico não formavam um conjunto linguístico homogêneo. Eu ainda não era consciente de nossa esquisita formação territorial.

Ao utilizar meu computador 486 (modernooo), eu buscava joguinhos típicos de crianças de época: Fifa Soccer, Elifoot, Carmem San Diego eram comuns. Carmem era um joguinho esquisito, pobre de grafismo, mas rico em informação geográfica. Perseguia bandidos, sempre lendo as listas de dicas e pistas que eram dadas acerca do paradeiro dos bandidos. Eram dicas simples, mas com bom conteúdo geográfico. Aprendi a buscar em livros por estes jogos.

Aos domingos, assistir ao Fantástico, além de me fazer tremer de medo com as supostas imagens de eventos grotescos como a possível autópsia do ET da Área 51, eu via imagens dos enlatados do Discovery Channel e BBC, que recheiam o programa, mostrando profundezas dos mares, ou a migração dos golfinhos. Adorava Jacques Cousteau. E me tornei meu próprio Jacques.

Não é caro criar um pesquisador de qualidade na infância. Eu jamais fui uma criança de exigências caras. O interesse que nascia em mim pela pesquisa era o mesmo que hoje exijo de meus alunos, no Colégio Naval, única instituição de Ensino Médio da Marinha do Brasil, localizado em Angra dos Reis. Lembro que eu fiz Geografia porque meu professor de 5ª série até o 1ºano do Ensino Médio, Emanuel Carneiro, faleceu.

Eu era apenas um adolescente, e chorei muito ao saber, duas semanas após ve-lo, que ele morreu após uma cirurgia de retirada de um tumor no cérebro. Ele usava um anel de ouro com uma grande "jujuba" de rubi, e era engraçado. Amava o Lula, deixando a barba crescer em anos eleitorais. Usava camisa da Redley florida e calça da Company. Era um bom professor, e não comentei que na escola, era minha matéria favorita. Soube estimular minha facilidade natural por Geografia, e minha humana e simples capacidade de me indignar.

Acho bonito lembrar de nosso passado. Ao olhar para trás, entendemos os por quês de estarmos onde estamos hoje. E assim, somos capazes de planejar a vida e protetarmos nossos destinos no futuro. Quero ser lembrado como um bom professor. Aprendi iso com pessoas como Emanuel, e tornei isso minha opção por fé. Tenho fé no conhecimento. Ele liberta. Este é meu testemunho.

O mundo é confuso e confusamente entendido
(Milton Santos)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Variações sobre um mesmo tema

Todas as citações desta postagem são trechos da música VARIAÇÕES SOBRE UM MESMO TEMA, dos Engenheiros do Hawaii (Humberto Gessinge e Augusto Licks), na ordem completa, sem faltar nenhum pedaço. Leia e ouça-a: http://letras.terra.com.br/engenheiros-do-hawaii/45769/

"Eu tenho os meus problemas, você tem os seus
variações de um mesmo tema, ateus procurando Deus
eu tenho os meus problemas, você tem os seus
variações de um mesmo tema, dylan e seus dilemas"


E hoje eu acordei bem, dormi cedo, li um pouco e dormi. Pensei em toda a minha vida, mas ela me fez dormir no segundo pensamento. Vida entediante ou muito densa para ser pensada à noite?

Será que estou crescendo ou involuindo nesta nova experiência militarista-nacionalista fandango-angrense na qual me meti nos últimos meses? Boa pergunta. Ótima pergunta! Porém confesso temer a resposta.

Cidade emo, com ruas vazias as 19h da noite, na qual as mulheres aparecem grávidas e me pergunto como elas fizeram pra arrumar homem e vice versa, pois não vejo pessoas nas ruas. Já trabalhei em tantos lugares, mas este com certeza consegue superar tudo o que vivi. Eu preferia Morro Agudo em Nova Iguaçu? Não sei, também chegar a esse ponto seria sacanagem minha. Mas me sentia mais local lá do que aqui. Esquisito. Eu assim, cheio de problemas e recebendo dinheiro, mudando e classe social, de mundo, vida, perspectiva, e saldo bancário, de tudo. E as perguntas não param!

"?onde estamos? ?pr'onde vamos? ?onde já se viu?
num retrato, num espelho, no mapa do brasil
?qual é seu signo? ?que sangue você gosta de sugar?
?qual é o seu limite (se é que ele existe)?
se não existe, ?qual é"


Não conheço meu limite, mas sei que circundo o mesmo a todo momento. Há um jogo estranho entre minha consciência e inconsciente, individual e coletivo. Um faz escolhas, o outro cria as alternativas. Complementam-se e eu fico assim, a reboque do que estes dois brincalhões me ordenam. Máquina e operador de máquina se misturam.

"eu tenho os meus problemas...
?onde estamos? ?pr'onde vamos? ?onde já se viu?
num retrato, num espelho, no mapa do brasil
?qual é seu signo? ?que sangue você gosta de sugar?
?qual é o seu sexo (se é que ele existe)?
se não existe o complexo, ?qual é?"

Cito a experiência do rapaz que foi a primeira vez numa festa e encheu a cara. Durante era legal, mas depois a ressaca foi brutal. Vivo uma ressaca contínua de lembranças do passado, saudades de amigos, de pai, mãe, irmão, sobrinho,.... saudades da sessão da tarde, de andar a pé domingo de manhã pra comprar pão. De recusar papel de agiota na passagem férrea de marechal. Eu parecia em paz, mas digo isso vendo pelo ângulo de hoje. Naquela época eu achava que paz era o que vivo hoje. E onde será que encontro a paz?

"não procure paz onde paz não há
não procure alguém onde não há ninguém
não procure um céu azul no mar vermelho
não procure outras pessoas no espelho
não procure mais, 'tá tudo aí
e ai de nós se o disco acabar
se o rastro ficar invisível a olho nu
pois nossos olhos não usam black-tie"


Cansei de buscar, vou tentar não buscar, mas cansei de não buscar, vou ali fora, sair dessa lan house, hoje fiquei fazendo questões de prova, atendendo a alunos da Companhia do Colégio Naval e vivendo a burocracia. Não é ruim, confesso. É bom gerir, ajudar, ser útil.

É o que me falta. Me sentir útil de um modo ativo, não sendo mais um. Talvez esse papo de servir a Pátria tenha soado estranho a minh'alma, e me feito acreditar que seria alguém diferente, mas importante para a Nação. Muitas vezes eu fui importante fazendo coisas que não notava serem o mesmo. Qu esta seja uma delas.

"ouça o que eu digo: não ouça ninguém
ouça o que eu digo: não ouça ninguém
só obedeça à lei da infinita highway
o piloto automático não leva a nenhum lugar
(não, não ouça o que eu digo: não ouça ninguém)
o piloto automático não leva a lugar nenhum
(não, não ouça o que eu digo: não ouça ninguém)
...não ouça ninguém"


Mesclei meu dia com as saudades de quem tornou meu final de semana especial.
Sem mais: Renata.
Estranho olhar de longe a vida de alguém e enxergar coisas que são minhas, que pensei ou penso e se identificar de modo tão doce com esta gente.

Que o tempo melhore em Angra, e que deste modo eu consiga proporcionar felicidade para mim, através do brilho dos olhos escuros e da boca larga dela.
No meu momento de medo, sentir-se fonte de segurança contra o medo de uma menina me fez muito bem;

São marcas que se somam, e ocasionam estes dois efeitos colaterais, estes seis bilhões de efeitos colaterais... renata, breno, e todos os nossos gêmeos de experiências mundo afora.

Somos variações sobre um mesmo tema. Renata, Breno e seus problemas.
Não adianta fugir, a nossa maior luta é sempre para se sentir feliz, nada mais do que isso.
Não entendo o mundo, mas confesso que tento, do fundo do meu coração,
através de universos paralelos, copos de cerveja, e livros de David Harvey.

"Não tenha medo: nem tudo tem explicação
há mistério em quase tudo, nem todo veludo é azul
o coração sempre arrasa a razão
o que é preciso ninguém precisa explicar
o mundo é muito grande p'ra quem anda de avião
p'ra quem anda sem destino ele cabe na palma da mão
o coração sempre arrasa a razão
o que não tem explicação ninguém precisa explicar
o sol ainda se levanta no meio de tanta confusão
no meio da madrugada ele ilumina o japão
o coração nunca cansa da canção
o que tá escrito na canção
ninguém precisa aceitar"


Renata, um beijo enorme. Garçom, uma dose de Renata (existe uma cachaça com esse nome, e não mora em Campo Grande!) e uma sardinha frita, por favor!

domingo, 30 de maio de 2010

Começar de novo, agora com mais leveza

Silêncio! ...
Ok, agora posso falar...

"No beco escuro explode a violência
No meio da madrugada
Com amor, ódio, urgência
Ou como se não fosse nada
Mas nada perturba o meu sono pesado
Nada levanta aquele corpo jogado
Nada atrapalha aquele bar ali na esquina
Aquela fila de cinema
Nada mais me deixa chocado
Nada!" (herbert vianna)

Nunca consegui observar um rosto triste e não me sensibilizar. Nunca consegui conhecer uma mulher linda e muito simpática que não conseguisse me cativar. Eis Renata Braga, nome curto, mulher extensa, enorme, ampla e infinita: POR DENTRO!

E quando nada no mundo consegue parar o trânsito, nada no mundo faz diferença efetiva, nada nos faz observar a existência desumana que nos faz, é foda! Vivemos tempos tristes, onde pessoas fingem amor, outras fingem sentir dor, e a gente vive fingindo ser normal tanto fingimento, tanta falta de bom senso. Se ninguém sente, você sente. E essa é uma de suas enormes belezas, que não força para agradar, e o faz sem perder a naturalidade de menina jovem.

"Me espanta que tanta gente sinta a mesma indiferença!" (Humberto Gessinger)

"São todos iguais, todos iguais, mas uns mais iguais que os outros!" (Humberto Gessinger) E eis que no meio de tanta igualdade sem sensibilidade encontrei em 2005 uma tristeza com alegria, temperada de juventude e sonhos em corpo de recém-mulher, que abarcou meu coração, e eu me vi conhecendo uma dor em outra pessoa que eu não entendia. Tristesse.

Anos depois, reencontro, e parece que a via todos os dias, o som da voz é o mesmo, o rosto, o corpo e a mente, completos e perfeitos em si. Ouço o ruído de um suspiro, e lembro de que já vivi isso, e de nada bastaria ensinar caminhos, pois a mente só se cura quando pode, quando o querer e poder se combinam.

É BREGA escrever um post para uma amiga triste.
É BRAGA escrita mais bonita que me impele a ser brega.

E é assim que se cura o amor. Com frases de parachoque de caminhão, com choros que parecem infindáveis, com sensações que parecem estranhas, e a certeza de que se viveu algo único.

O tempo-espaço é insubstitutível e jamais se repetirá. Esta dor de agora é o reconhecimento de que amar vale a pena, pois saudades ficaram, lembranças, o vazio daquele beijo que...

findou-se.
acabou. ou não...
tentar não pensar talvez não adiante...então pense, mas doutrine os pensamentos, de grão em grão, tristeza em alegria, transformando saudades em esteio.

Mas nada se perde, nada mesmo. Investir em você, por meio de outra pessoa, e em breve o amor se recicla, vale a pena. Relaxe. Afinal, como a musiquinha de amor brega do Kid Abelha diz:

Maio
já está no final
O que somos nós afinal
se já não nos vemos mais
Estamos longe demais
longe demais

Maio
já está no final
É hora de se mover
prá viver mil vezes mais
Esqueça os meses
esqueça os seus finais
esqueça os finais

Eu preciso de alguém
sem o qual eu passe mal
sem o qual eu não seja ninguém
eu preciso de alguém


E lembre-se:

"No beco escuro explode a violência
No meio da madrugada
Com amor, ódio, urgência
Ou como se não fosse nada
Mas nada perturba o meu sono pesado
Nada levanta aquele corpo jogado
Nada atrapalha aquele bar ali na esquina
Aquela fila de cinema
Nada mais me deixa chocado
Nada!"

(EXCETO O AMOR, RÊ BRAGA! AME, densamente, DEMASIADAMENTE!)

Obs.: Mais Lapa, mais vida. Ilha Grande e pequena grande vida! Ser jovem enquanto se é, até que a idade mais a experiência nos mostre algo novo. Pode usar salto alto, você fica do meu tamanho! Rs. Tenho saudades profundas de hoje, e de você aqui, como uma gata, uma de suas gatas, acanhada no sofá, sorrindo sem ter para que, sentindo o que é viver.

domingo, 9 de maio de 2010

Um mês em angra. Dia das mães e ociosidade!

Um mês e 8 dias trabalhando em Angra dos Reis. Data marcante? Que nada, só mais uma data. Coincidentemente hoje é Dia das Mães, e isso sim é, levementemente, marcante. Se bem que é tanta data que nem sabemos o que cada uma significa: das crianças, dos santos, das mães, pais, do geógrafo, da independência, da guerra do paraguai, do soldado, da reública, ...

A vida teria que ser uma festa para comemorar tantas coisas! Mas continuo de pé, seguindo na luta, graças a cerveja, a chopp e ao churras! Voltemos a angra.

Imagina morar numa casa dentro do seu trabalho. Sua casa ser no sopé de uma encosta, e esta encosta ser de uma floresta densa como a Mata Atlântica! É...humidade intensa, de modo que sua toalha de banho não segue em 3 dias. Isso seria moleza, não fosse a inexistência de vizinhos, a distância da cidade ser de 15 min andando, e uma fauna de insetos de encher os olhos de biólogos de plantão. ATé que na semana que passou não tive que pisar em nennum caramujo africano... Aquilo é nojento! Mas põe nojento nisso. Imagina um bicho sem ossos, gelatinoso, feio, com uma concha de 15 cm, que dá toda pinta q nem se importa de passear por seu jardim. PqP!

A rotina tem sido assim:
Segundas Terças e Quartas-feiras entro 8h no trabalho. Então acordo 7 e meia da manhã, tomo um banho, tento me secar com a toalha q ñ seca nunca, passo roll-on no suvaco, malbec aerosol no tronco, coloco uma camisa branca limpao uniforme da marinha, passo graxa no sapato, lustro, arrumo a bolsa, passo gel no cabelo, hidratante no braço, malbec no pescoço e ante braço...

Saio! 3 minutos andando em pedras, areia, as vezes lama e poeira. chego ao prédio do COMCA com o sapato levemente sujo. Limpo ele passando atrás da minha perna contrária. Depois vejo que sujei a calça. Limpo. Bom dia COMCA, bom dia IMCA! Bom dia Ten Télis! Enfim, minha mesa, o que tenho pra fazer? E intercalo trabalho com pesquisas para a aula que tenho que dar nesta semana.

Quintas e Sextas feiras, eu leciono de 7h a 12:20. Aí sim, este é o meu campo. Nada de bom dia aos comandantes. Tenho q acordar 6h da manhã, mas com alegria. Espeto meu pen drive no pc da sala, ligam o projetor do teto e largo a lábia. A tarde, boa tarde COMCA, IMCA, Ten Télis...

As 17h de todos os dias praticamente estou liberado. Liberado para...ir para minha casa bunker, isolada da civilização. Me recuso. Acabo ficando no trabalho até mais tarde, 21h, 22h, pesquisando, lendo notícias...

Infelizmente, alguns dos sites mais interessantes para dar aula, como youtube e sites de movimentos sociais ou redes sociais, são bloqueados, mas usando de wikipedia e pesquisas inteligentes, tenho me virado bem.

Nada que a minha cabeça não supere. Quartas-ferias vamos ao Clube Coqueiros ver os jogos do Flamengo, e isso será um problema, pois dando aula quintas-feiras tenho q dormir cedo, e provavelmente estarei preparando aula.

Mais tarde conto mais de minha vida em angra. Hoje foram detalhes da vida dentro dos muros do Col Naval.

Estou comprando uma câmera profissional para mim, então em breve voltarei a postar fotos no Flickr, Fotolog, Facebook e aqui. Por enquanto, sigo na casa bunker que não tem conexão 3g, esperando assinar velox. No mais, é isso mesmo. Aloha, estou vivo, e bem.

Qualquer boato não é boato. Fiz um grande negócio em entrar para a Marinha!
Vou ali ao shopping levar mamãe ao cinema para vermos Alice no país das maravilhas. Beijos!
 
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