terça-feira, 3 de novembro de 2009

Estatuto da Igualdade Racial – Entre o avanço e o atraso – Breno Mendes

Estatuto da Igualdade Racial – Entre o avanço e o atraso – Breno Mendes

Uma lei que se pretendia avançada, demonstra-se arcaica perante os avanços já praticados pela sociedade brasileira

O Estatuto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em Setembro deste ano. Porém, no Brasil o problema de um sistema bicameral é o de que o que demora para ser aprovado por 513 deputados, ainda terá que ser aprovado sem modificações por mais de 90 senadores. Caso haja modificação, vai de novo para a Câmara.

Mas nos parece que ouve uma costura política delicada no projeto aprovado pela Câmara. A questão crucial era a que abordava a política de terras de remanescentes quilombolas, que, segundo palavras do deputado Indio da Costa (DEMOCRATAS-RJ), poderia criar “uma espécie de MST negro”. Onyx Lorenzoni (DEMOCRATAS-RS), disse que o projeto, após ser verdadeiramente retalhado na Câmara, perdeu o indesejável “germe da racialização”.

O texto que foi para o Senado está sem grande parte das considerações consideradas mais polêmicas pelo status quo brasileiro branco: ficaram de fora a regulamentação de cota de 20% de negros para filmes e programas de TV e o detalhamento da demarcação das terras de quilombolas. Outra proposição que foi cortada do projeto original foi a reserva fixa de cotas para negros nas instituições federais de ensino superior (universidades e afins). Ou seja, o estatuto não prevê cotas.

Segundo palavras do Ministro Edson Santos (SEPPIR), o estatuto é um ponto de partida que reconhece e dá visibilidade à questão negra. Me desculpe, mas RECONHECER a questão negra é dose! Ainda não haviam reconhecido? Mas perae! Dar visibilidade? E Desde primórdios, e Abdias, e Ivanir, e os pré vestibulares, e as campanhas? Não deram visibilidade?Nem Obama deu visibilidade? Precisamos de uma colcha de retalhos para isso? Ok se dizem assim...

Para entender, o texto prevê a “possibilidade” (isso sim, um estatuto fica anos tramitando para instituir a POSSIBILIDADE! Só no Brasil mesmo...) possibilidade de o governo criar incentivos fiscais para empresas com mais de 20 empregados e pelo menos 20% de negros.

Diz ainda que o poder público adotará ações afirmativas em instituições públicas federais de ensino mas não prevê cotas, e promoverá igualdade de oportunidade no mercado de trabalho. Parece bastante vazio. Também foi aprovada ainda uma cota de 10% para negros nas candidaturas a vagas da Câmara dos Deputados, Assembleias Estaduais e Câmara de Vereadores . Mas isso não parece alterar em nada o momento atual. Pois é possível eu ser líder de partido, colocar 10% de candidatos negros, porém as candidaturas que mais recebem dinheiro e tempo na TV serem de candidatos a vereador brancos ou similares.

A esperança é que seja aprovado até o dia 20-11-09, mas hoje é dia 3 de Novembro e só no dia 28-10 que Sarney recebeu representantes do Mov. Negro Nacional do PMDB (nem sabia que isso existia, sinceramente!). O Senado propaga que Srney foi o grande mentor das cotas nas universidades (sic): cf. http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=96818&codAplicativo=2&parametros=igualdade+racial

A matéria do projeto de Lei de Paulo Paim está identificada no sistema do Senado, mas há uma defasagem de 5 anos na informação de tramitação, pois só vai até 2004: cf. http://www.senado.gov.br/sf/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=58268

Em diversos momentos, o Estatuto se aparenta com uma segunda Lei Áurea, ou Constituição Brasileira dos Pretos:
Art. 19. A população afro-brasileira tem direito a participar de atividades educacionais, culturais, esportivas e de lazer, adequadas a seus interesses e condições, garantindo sua contribuição para o patrimônio cultural de sua comunidade e da sociedade brasileira.

§ 1 º Os governos federal, estaduais, distrital e municipais devem promover o acesso da população afro-brasileira ao ensino gratuito, às atividades esportivas e de lazer e apoiar a iniciativa de entidades que mantenham espaço para promoção social dos afro-brasileiros.

A pergunta que faço é: Estes direitos não estão assegurados já na Constituição Federal? Logo, se um texto parecido e similar a este na Constituição, carta-magma do Estado brasileiro, não foi acatada e cumprida, criando tais vissicitudes e aberrações estatísticas quanto ao acesso da população negra brasileira ao ensino gratuito, de qualidade e à cultura, seria NECESSÁRIO um texto mais enfático. Mais prático.

Porém nem tudo é espinho. Há flores, e bons frutos no projeto. Porém,são poucos. Estabelece a obrigatoriedade de ensino e inclusão de uma disciplina chamada História Geral da África e do Negro no Brasil. Uma questão é como encaixar a disciplina, já que História somente possui 2 tempos semanais, assim como Geografia, Filosofia, Artes, Sociologia, Educação Física e outras. No futuro, uma ampliação em horas diárias do tempo de escola será urgente.

Art. 21. A disciplina “História Geral da África e do Negro no Brasil” integrará obrigatoriamente o currículo do ensino fundamental e médio, público e privado, cabendo aos estados, aos municípios e às instituições privadas de ensino a responsabilidade de qualificar os professores para o ensino da disciplina.

Parágrafo único. O Ministério da Educação fica autorizado a elaborar o programa para a disciplina, considerando os diversos níveis escolares, a fim de orientar a classe docente e as escolas para as adaptações de currículo que se tornarem necessárias.


Nos últimos anos no Brasil, diversas disciplinas se tornaram obrigatórias. Vide, após a escolha da cidade-sede para Olympics 2016, as autoridades terem instituído que teremos segunda língua estrangeira obrigatória em algumas escolas e a introdução já no ano que vem do Inglês para crianças do 1º ano (antigo C.A.) ao 3º ano do Ensino Fundamental. Em 2011, para 4º e 5º anos: http://noticiasrio.rio.rj.gov.br/index2.cfm?sqncl_publicacao=21489 . Pergunta de quem é professor de Geografia e se interessa no bom uso da escola: Quem dará aula da disciplina? Geógrafo, Historiador, Sociólogo? Para o autor deste texto, todos estes.


Outros artigos se mostram lixo burocrático. Vide o que chamo, sem medo, de gasto de tinta sem utilidade alguma:

Art. 22 . Os órgãos federais e estaduais de fomento à pesquisa e à pós-graduação ficam autorizados a criar linhas de pesquisa e programas de estudo voltados para temas referentes às relações raciais e questões pertinentes à população afro-brasileira.


Mais segue uma linha de LeiÁurea do século XXI, pois este artigo 22 dá margem a entendermos que antes do estatuto instituições como UFRJ, Unicamp, USP, UFF, CnPq, Capes, Minc, Fundação Palmares e outras não podiam criar pesquisas ou fomentar estudos acerca de relações raciais. Mais utilidade teria se afirmasse que tantos % dos recursos federais investdos em pesquisas seriam OBRIGATORIAMENTE investidos em estudos das dinâmicas raciais ou temas correlatos.


Os artigos 23, 24, 25 e 26 não citarei, pois seguem o mesmo absurdo. Reconhecer o direito à manifestação de religiões afro-brasileiras é me chamar de burro por acreditar que estava em uma democracia laica que permitisse liberdade de credo. REAFIRMAR O ÓBVIO SE INSERE NA PRÁTICA DISCURSIVA DE NEGAR A EXISTÊNCIA DESTE ÓBVIO ANTES QUE FOSSE ENUNCIADO PELO ENUNCIADOR DA LEI. A linguística trabalha bem com isso. O artigo 27 é interessante, pois permite ao fiel de tradições afro ou indígenas faltarem ao serviço para cumprir rituais e depois compensar a falta. Muito bom!


O artigo 29 é eficiente em coibir o uso de mídias para discriminar negativamente os fiéis. De novo o artigo 31 segue o mais do mesmo. Me dá a impressão de que a proposta original seria de que os orçamentos fossem obrigados a prever recursos para implementar ações afirmativas. Mas provavelmente há algum deputado que odeia a palavra OBRIGATORIAMENTE, e a substituiu em todos os artigos pelo artifício “poderão prever”, “poderão apoiar”, “poderão poderão”:

Art. 31. Os planos plurianuais e os orçamentos anuais da União poderão prever recursos para a implementação dos programas de ação afirmativa


Entendo, pois, que não podia então o orçamento federal prever tais recursos exceto com a promulgação desta lei. No artigo 31, VII § 1º, 2º, 3º se repetem : O Poder Executivo fica autorizado a adotar medidas que garantam; os órgãos do Poder Executivo Federal que desenvolvem políticas e programas nas áreas referidas no § 1º ficam autorizados a garantir; O Poder Executivo Federal fica autorizado a adotar as medidas necessárias


Outra vez, vemos o mais do mesmo. Dados práticos, com percentuais, regras, e similares, nada!

A razão básica para o Estatuto ser tão vazio de propostas factuais e de possibilidades reais está no CAPÍTULO VI “Do Direito dos Remanescentes das Comunidades dosQuilombos às suas Terras” . Este capítulo contempla 4 páginas do total de 32 do estatuto. Contrapõe-se ao ridículo tamanho do CAPÍTULO VIII “Do Sistema de Cotas” , que não contempla sequer uma página inteira.


Cabe problematizar:

- o estatuto da igualdade racial é realmente proposto, no atual momento, com a real intencionalidade de melhorar as condições de vida da população afro-brasileira?

- o estatuto da igualdade racial no modo como será sancionado tem alguma possibilidade real de minorar os sofrimentos das populações às quais este se destina?

- ou o estatuto da igualdade racial demonstra a vitoria dos detratores da questão racial brasileira? Pois nenhuma das questões abordadas é específica. Smente a questão do acesso à terra e da desapropriação de terras em benefício de quilombolas possui regras claras, detalhadas, procedimentos e institui toda a normativa.


Em nossa análise, este estatuto é, hoje, uma grande resposta retrógrada às possibilidades existentes até então de negros quilombolas obterem acesso a terras. Grosso modo, possui muito confete, muita purpurina, e muitas construções linguísticas típicas de atendimento de telemarketing: o governo federal poderá fazer, poderá estar fazendo, poderá decidir, poderá propor, poderá aprovar, enfim...como sempre, o governo poderá fazer tudo.

Mas, quando, efetivamente, fará algo?

Este texto é uma abordagem para o estatuto. Foi redigido para incitar debate com a Dra. Elisa Larkin Nascimento (www.ipeafro.org.br).


Link
para o Estatuto:
http://www.cedine.rj.gov.br/legisla/federais/Estatuto_da_Igualdade_Racial_Novo.pdf

Abraços,

Breno Mendes

Geógrafo

brenomendes@gmail.com

http://poeticainculta.blogspot.com

http://www.brenographia.com

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Hoje é o Dia do Flamenguista! Parabéns para nós!

Hoje, 28 de Outubro de 2009, é dia de São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo e santo das Causas Impossíveis. Hoje é também celebrado o DIA DO FLAMENGUISTA. Parabéns a todos os torcedores rubro-negros flamenguistas do mundo!

O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, sancionou no dia 17 de outubro de 2007 o Dia do Flamenguista, que na cidade do Rio de Janeiro será comemorada no mesmo dia do padroeiro do Flamengo, São Judas Tadeu. Faz parte do calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro. Uma pesquisa CNT/Sensus, mostrou que o Flamengo é o time de futebol com maior torcida do País.

Não precisava de pesquisa...todos sabem que é a melhor. Só o Ronaldo fenômeno quis polemizar, comentando ser o Curinthia a maior torcida.

Entenda o que é o Flamengo!

O INICIO

A grande história do "Rubro Negro" teve inicio a partir da idéia de criação do esporte mais praticado no inicio do seculo passado - o remo.

Os remadores - José Agostinho Pereira da Cunha, Mário Spindola, Nestor de Barros, Augusto Lopes, José Félix da Cunha Meneses e Felisberto Laport - resolveram comprar um barco. O escolhido foi um já velho, porém adequado às finanças disponíveis. Este barco ganhou o nome de "Pherusa".

Dias depois (06/10), os jovens remadores foram dar a primeira volta, partiram da praia de Maria Angu (atual Ramos) até a praia do Flamengo. No caminho a forte tempestade virou a embarcação e os náufragos tiveram que se segurar no que restou da Pherusa.

Mas o grupo estava disposto a recuperar a embarcação e iniciaram uma reforma. Quando estava quase pronta foi roubada e nunca mais vista. Mas o entusiasmo em fundar um grupo de regatas não desapareceu. Os jovens decidiram comprar outro barco. George Lenzinger, José Agostinho, José Félix e Felisberto Laport entraram na história, juntaram o dinheiro necessário e compraram o Etoile, de Luciano Gray, logo batizado de Scyra e registrado na Union de Canotiers.

Assim, à 17 de novembro de 1895, no casarão de Nestor de Barros, número 22 da Praia do Flamengo, onde era guardada a Pherusa e depois a Scyra, foi fundado o Grupo de Regatas do Flamengo e, com ele, eleita a sua primeira diretoria: Domingos Marques de Azevedo, presidente; Francisco Lucci Colás, vice-presidente; Nestor de Barros, secretário; Felisberto Cardoso Laport, tesoureiro.

Assinaram ainda, a presente ata, como sócios-fundadores, José Agostinho Pereira da Cunha, Napoleão Coelho de Oliveira, Mário Spíndola, José Maria Leitão da Cunha, Carlos Sardinha, Eduardo Sardinha, José Felix da Cunha Menezes, Emygdio José Barbosa (ou Emygdio Pereira, ou ainda Edmundo Rodrigues Pereira, hà controvérsias) Maurício Rodrigues Pereira, Desidério Guimarães, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira, João de Almeida Lustosa e José Augusto Chalréo, sendo que os três últimos faltaram à reunião, mas assinaram a ata dias depois e receberam o título.

No encontro, foi acordado que a data oficial seria a de 15 de novembro, pois no aniversário do Flamengo sempre seria feriado nacional (Dia da Proclamação da República), e que as cores oficiais seriam azul e ouro, em largas listras horizontais.

O FUTEBOL

A partir do início do século XX, o futebol começava a disputar popularidade na cidade do Rio de Janeiro com o remo. Mas, como o clube rubro-negro não dispunha de departamento de esportes terrestres, seus sócios eram obrigados a acompanhar o Fluminense também, pois em Laranjeiras havia um time para torcer.

O maior exemplo desta divisão era Alberto Borgerth. Pela manhã, era remador no Flamengo. À tarde, representava o Fluminense no futebol. Os torcedores, sem opção para acompanhar os dois esportes em um só clube, seguiam o mesmo comportamento, dividindo-se na paixão clubística.

O Flamengo, então, começou a dar os seus primeiros passos no nobre esporte bretão. No primeiro amistoso, realizado dia 25 de outubro de 1903 no Estádio do Paissandú Atlético Clube, perde do Botafogo por 5 a 1, com a seguinte formação: G.V. de Castro, V. Fatam, H. Palm, Sampaio Ferraz, A. Gibbons (capitão), L. Neves, C. Pullen, M. Morand, A. Vasconcelos, D. Moutinho e A. Simonsen, com os reservas M. Gudin e A. Furtado.

Uma curiosidade é que o time de futebol não entrava em campo com o uniforme oficial do Flamengo. No primeiro jogo, vestiu camisas brancas e shorts pretos. Depois, foi obrigado a usar o Papagaio de Vintém e a Cobra Coral. O esporte era malvisto pelo remo rubro-negro e, por isso, o clube só se filiou à Liga Metropolitana de Futebol - criada em 1905 - em 1912, depois do ingresso dos ex-tricolores, ficando cerca de nove anos disputando somente amistosos.

A OFICIALIZAÇÃO DO FUTEBOL
O futebol do Flamengo é dissidente do Fluminense. Em 1911, o tricolor estava às vésperas do título carioca, mas, atravessava grave crise interna.

O capitão do time, Alberto Borgeth (o mesmo que remava pelo Flamengo), se desentendeu com os dirigentes e, depois de conquistado o campeonato, liderou um movimento de saída das Laranjeiras.

Dez jogadores campeões deixaram o Fluminense: Othon de Figueiredo Baena, Píndaro de Carvalho Rodrigues, Emmanuel Augusto Nery, Ernesto Amarante, Armando de Almeida, Orlando Sampaio Matos, Gustavo Adolpho de Carvalho, Lawrence Andrews e Arnaldo Machado Guimarães.

Dia 8 de novembro, foi aprovado o ingresso dos novos sócios. Os remadores do Flamengo, porém, não eram favoráveis à dedicação oficial do clube rubro-negro ao futebol, caso que estava sendo analisado por uma comissão da qual o líder era justamente Alberto Borgerth. Mas não teve jeito mesmo. Em assembléia realizada no dia 24 de dezembro de 1911, o Flamengo criou oficialmente o seu time de futebol, sob a responsabilidade do Departamento de Esportes Terrestres.


CLUBE DE REGATAS FLAMENGO
Fundado em 17/Novembro/1895
End.: Av. Borges de Medeiros, 997
Lagoa (Gávea) - Rio de Janeiro/RJ CEP 22.430-040
Estádio da Gávea - capacidade: 8.500 pessoas
Sites: www.flamengo.com.br


Fonte: Campeões do Futebol - www.campeoesdofutebol.com.br




sábado, 24 de outubro de 2009

As ruínas da memória: O passado (in)felizmente vai embora, matando a cada um de nós

Enquanto trabalho no IPEAFRO, de segunda a quarta, me vejo mergulhando em um oceano de informações, dados históricos, eventos incríveis, que não vejo estarem pública e notoriamente conhecidas pelas pessoas, pelos mais diversos motivos. Por exemplo estas mulheres das fotos 3x4 tiradas nos anos 1940-50.

Um exemplo é a velha questão: em quem você votou para deputado/vereador nas duas últimas eleições? Parece incrível, mas nem mesmo eu sei. Há uma cultura política grotesca em nosso país que esquece os fatos políticos marcantes, por uma lado devido ao pouco hábito fiscalizatório ao qual somos instruídos; por outro lado, devido ao ritmo incessante da vida moderna, que apaga dos homens e mulheres quaisquer possibilidades de otimizar seus tempos cotidianos de modo a refletir suas ações.

Há um grande problema neste assunto, pois a partir do momento em que a ação cotidiana da vida se torna orgânica e incessante, posto que não é refletida ou confrontada a modelos teóricos mentais ideais ou projeções de futuro e comparações com momentos similares no passado ou presente de pessoas conhecidas, ocorre uma perda do caráter humano de todos.

Ocorre a alienação total e absoluta, e o homem, que é homem por trabalhar e dar sentido a este trabalho, atribuindo-lhe uma carga valorativa e de significado, representando a si, sua ação e ao produto da mesma, torna-se apenas engrenagem, se torna máquina, e máquina não explica, a máquina não se explica, e não exige explicações. Máquinas exigem óleo (um pouco de comida), manutenção (descanso noturno) e uma nova carga de trabalho sem razão de ser.

Se chama alienação, se chama desumanização. Alienado é aquele que não apreendeu todas as fases de seu trabalho, ou o papel que sua sua ação local desempenha no conjunto geral da obra, seja no trabalho, na escola, na igreja e em outros espaços de sociabilidade. O risco, jádizia Marx, era o de que a alienação transformasse o homem em coisa, e a coisa não soubesse sequer se libertar, além de não saber da possibilidade de libertação. A coisificação do homem se torna uma problemática pesada e custosa a todos nos dias de hoje, pois coisa não reflete, não se coloca no lugar do outro nem se vê como essencial ao global.

Não saber o que se faz, os por quês, nem como se faz, e qual o sentido desta ação leva a atitudes insanas, radioativas e ameaçadoras ao futuro global, como o ato de jogar lixo nas ruas, tratar mal alguém na rua, jogar comida fora e mesmo não agarrar as oportunidades que a sociedade lhe forneça de estudar, seinformare devolver ao mundo aquilo que foi conquistado com muita luta pelo povo.

Estudantes alienados vão à escola sem entender o que fazem ali, sem saber que matemática fará seus cérebros ficarem velozes e com raciocínio lógico apurado. Se enxergam enquanto reprodutores de ações toscas e mal formadas, buscando notas de aprovação que calem a boca de seus pais e lhes permitam mais tempo jogando bola na rua, ou tempo na lan house. Professores que alienam seus alunos, diretores que alienam seus professores. Pais que se alienam olhando no espelho e pedindo aos filhos uma ética que jamais tiveram. C'est la vie!

Funcionários alienados porduzirão muito, porém sem significação, sem propostas, sem colocar aopatrão o que pensam, sem organizarem-se, e com isso, no futuro distante que vivemos a favelização é um resultado direto do enfraquecimento do trabalho frente ao capital.

Mulheres alienadas somente repetirão comportamentos machistas, travestidos de "girl power" e feminismo, sem entender que a libertação da mulher deve ser uma libertação da humanidade como um todo, visto que foram as atitudes machistas que configuraram o mundo atual na louca megalomania que há.

Fiéis alienados enxergarão com egoísmo a porta do céu, afirmando-se como os únicos mercedores da salvação, sem lembrar que toda e qualquer doutrina religiosa é minoritária dentro do amplo espectro de deuses e divindades existentes no globo. Logo, calculo que se Deus escolher apenas uma doutrina para ir ao céu, cinco sextos da humanidade virarão churrasquinho do capeta, namaior chacina de todos os tempos. Isso sem falar nos líderes espirituais que não hajam com justiça.

"Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante, mas nos deram espelhos, e vimos um mundo doente!" (Legião Urbana)

"A memória é uma ilha de edição!", dizia Camara Cascudo. Quem? Não me lembro de Câmara, nem do Cascudo que me deu, enfim. O post de hoje mistura tudo o que tem havido em minha vida, como um liquidificador ambulante, como uma metralhadora transtornada, sem pieguice.

O engraçado das relações conjugais é que são provas cabais de que tudo na vida é passageiro, e que devemos fazer tudo o que há pra fazer quando temos a oportunidade. O amor é alienante e alienado. Num dado momento, a outra pessoa é genial, incrível,essencial em sua vida, não havendo futuro sem aquela pessoa. Mas parece que do nada o imprescindível se torna nada mais, e o eterno, se torna amor antigo, quando muito. Mais comum se transformar em coisa nenhuma, e olhe lá.

Na vida cotidiana da cidade, não encontramos pessoas que tenham memória longa para suas dívidas. Pessoas que só lembram dos que as devem, mas não a quem devem. Talvez eu mesmo já tenha dado calote, largado alguém sem ligar, e agora esteja passando algo como a lei do retorno. Não sei, talvez eu também esteja convivendo com o Mal de Alzheimer social, a perda da memória cotidiana. Fico feliz pelas pessoas lembrarem que o presidente é Lula. O fato de lembrarem q votaram nele já é bastante promissor, visto que à época de Collor e FHC, nos bares da cidade ninguém admitia ter votado neles: "Eu? que isso, meu irmão! Votei no Lula!" (Seu Manoel, dono de alguma padaria por aí, fugindo da verdade).

Que seja. A memória é uma ilha de edição, e eu não consigo mais acreditar que se lembrarão do que escrevo daqui a 10 minutos. Ao menos, tentem fugir da alienação, amigos! Reconheço que dizer isso tudo o que digo aqui é deveras alienante!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Flamengo x Botafogo - A ascenção de um campeão ou um fogo de palha?

UM PAUSE NAS NOTÍCIAS POLÍTICAS, FALEMOS DA NAÇÃO! MENGOOOO!

Lembro bem que todos dizem: O Flamengo é um time de chegada! E isso poderá ser confirmado nas próximas semanas, quando o time enfrentará adversários fora de casa que serão muito importantes na definição da resposta à pergunta do título deste post. Afinal, esta série invicta de quase dez jogos do Fla é fogo de palha ou concreta o caminho para a glória?

Pois antevejo que se o Fla for campeão brasileiro este ano, Adriano e Petkovic se imortalizam como dois dos maiores jogadores que a Gávea viu jogar. É esperar para ver, e eu verei. Comprei meu ingresso para o jogo, e estarei lá, em pleno Engenhão, conferindo e empurrando meu mengão rumo à vitória. Comprei no site www.ingressomais.com.br .



Ao Botafogo, restará perder e ver o clássico Bota x Flu acontecer na segundona. Assim eu espero. Podem até não cair, mas que não roubem ponto do Fla e que nos ajudem, vencendo nossos adversários diretos.

Caso não façam isso, estarei no Flu x Palmeiras, torcendo pro Plameiras enterram o FLU. Caso contrário, até torço pelo time de cores esquisitas de Laranjeiras.

Terão funcionários à disposição dos torcedores das 13h às 21h deste domingo. Os portões do Engenhão serão abertos às 14h30m, e, caso não haja chuva, haverá uma preliminar da categoria mirim, com a partida entre Botafogo e São Cristóvão, a partir das 16h.

Palpite? Flamengo 3 a 0! Pet, Juan e Adriano! 2 a 0 no primeiro tempo! Atlético, São Paulo, Inter tropeçando... ihhhhh, demorou!

Veremos!

[Medo] Os medos do tempo, o presente que damos à pressa, esquecendo da vida, olhando o relógio

Lembro muito bem de um pesadelo que eu tinha na infância. Eu sempre via relógios por toda parte de onde olhava, e isso me desesperava, de um modo tal que simples relógios me tiravam o sono. Não consigo compreender que sonho esquisito era aquele, mas ele me mostra, 15 anos depois, que a humanidade é oprimida por uma maquininha chamada "relógio"; mais que isso, ele é o verdadeiro Deus onipresente de nossa existência.

Tratamos o relógio como os incas tratariam um antigo Deus de sua civilização: damos-lhes nosso coração, extraído vivo e pulsante, pela boca. Acordamos atrasados, comemos mal no café, por pressa, menos do que queríamos comer, mas já se torna certamente muito tempo para perder o ônibus, perder o trem e chegar atrasado no trabalho. Mas por que chegar atrasado é tão indesejável? Será que gostamos tanto de chegarmos na hora simplesmente por prazer de estar pontual? Talvez a resposta esteja em outro campo da vida.

A pressa é devido ao alto custo do atraso. O dinheiro como mola que move o mundo é de multiplicação intensa, veloz e sem permitir passos para trás. Não nos dá margem ao erro, ou a quaisquer tentativas de entender o que fazemos durante o processo. Mal se planeja, se executa como dá, e depois olhamos para trás e vemos a cagada que fizemos. Bem vindo à era 3G!

Grande Guloso e Grotesco. O atual período nos trás Grandes Possibilidades sociais, porpem o capitalismo é Guloso, o que dá resultados Grotescos (3G).

Em posts futuros estarei discorrendo aqui análises da fluidez do trânsito das grandes cidades brasileiras, em especial do Rio de Janeiro. Soluções simples, ou caras? Soluções filosóficas? Será possível solução? Acredite, o que não faltam são propostas para tornar o atraso coisa atrasada, e tornar a vida mais confortável a bordo de meios de transporte inteligente...porém, a execução jamais é iniciada pelos gestores e administradores da coisa pública. Por enquanto, que tal sair de casa sem o relógio? Acredite, o pesadelo é terrível.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

[BLOGGEIRA CONVIDADA] Ensinar o temor, medo, raiva e violência não é o objetivo escolar (Kelly Araújo)

[ATENÇÃO! ESTE POST NÃO FOI ESCRITO PELO DONO DO BLOG, E SIM PELA MOÇA DA FOTO, KELLY!] Trabalho em Mesquita e fui almoçar em uma de nossas escolas municipais. Já é sabido que nossas crianças vem de casa extremamente desvalorizadas, muitas vezes sem amparo emocional. São filhos de pais adolescentes, filhos desviados sem extrutura emocional para educar, amar, amparar, guiar para um futuro melhor. Nossas escolas por mais que tentem humanizar o Governo e implementar projetos sociais de alto nível e financiamento Federal,não conseguem alcançar o objetivo que deveria ser: EDUCAÇÃO E RESPEITO ACIMA DE TUDO.

Nossas crianças totalmente desprovidas de valores, acabam lesando um dos bens mais preciosos que é o conhecimento. Nossos mestres já não tão engajados e revolucionários perdem também o brio, a vontade de transmitir o lúdico, o futuro a garra e a vontade de ensinar, por tamanha falta de respeito. Hoje o mestre é xingado, desrespeitado, agredido verbalmente, moralmente e fisicamente e não se pode fazer nada. Deve-se recorrer, somente após a agressão ser concluída, caso contrário o Conselho Tutelar cai de pau encima do professor, que chega em casa e mostra a sua família a marca da revolta e da agressão. Muitos destes, mesmo sendo feridos desta forma, e tabém no bolso ainda lecionam de maneira objetiva e por amor á profissão. Agora o que dizer para uma criança que, conforme eu dizia no primeiro parágrafo deste comentário, que fui almoçar em uma escola municipal e tive a triste imagem de uma inspetora gritando com uma criança de 5 anos de idade:

"Você tá maluco? Eu vou TE LEVAR PRO CONSELHO TUTELAR!. VOCÊ QUER IR PRO CONSELHO TUTELAR?"

A criança só chorava. Ora! Dizer isto para uma criança de comunidade é o mesmo que dizer para um adulto q você o levará pra delegacia. Ensinar o temor, medo, raiva e violência não é o objetivo escolar. Mas com certeza este será um futuro adolescente problemático que terá raiva da escola e de seus mestres.

(Kelly Araújo "*kellyzinha Araújo*" )

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

(IN) Feliz dia do professor - A educação está muito sem educação!


Já fiquei com professora, aluna, já fui xingado por aluno, já me senti um lixo. Sou professor! Não sou Ronaldo, e não brilho muito no Corinthians. Ganho 600 reais brutos, enquanto um juiz federal substituto inicia ganhando R$ 19.955 reais e uns centavos. Me meto a dar aula em qualquer lugar, e cito aqui: Mesquita, Edson Passos, Morro Agudo, Jacarezinho, California, Quintino, Madureira, Niterói, São Gonçalo, Marechal Hermes, Magé. Mas gosto de ser professor!

Apesar das pessoas retardadas com as quais trabalhei, e outras muito malandras em sentido de serem amigas, sobrevivi, e hoje ainda tenho forçaspara entrar em sala de aula. Mas meu tempo está acabando.

Ontem fui chamado a atenção por estar na calçada fumando um cigarro enquanto não havia um aluno sequer na escola. Segundo meu supervisor, eu deveria ficar na sauna da escola, sentado fazendo nada. Qual a diferença entre dentro do portão e fora do portão? Para eles, muita! Qual a diferença entre um profissional e um cão de guarda? O salário e o medo de perder privilégios são algumas das diferenças. Cidadania...igualdade? No Estado, não há! Escolas são o reduto do preconceito.

Nas condições atuais, com este salário, este nível de alunos que foram passando de ano desde a alfabetização, sendo semi analfabetos em grande maioria, e com esta estrutura estatal viciada que prende direção e supervisão a cargos políticos cuja liberdade se resume a zero, eu não aceito mais dois anos nisso. Vou catar latinhas, é mais light do que o que eu passo!

Ano passado a esta época eu tinha 28 turmas, mais de 700 alunos. Devo ter lecionado a cerca de 5000 pessoas, e isso é um bom número. Pra mim já deu!

O professor radical se tocou...a educação não o quer. A educação está muito sem educação!
HOJE VOU TRABALHAR DE 13 A 22H, POIS O GOVERNADOR ACHA QUE MINHA VIDA É DEVERAS FÁCIL, E NÃO POSSO TER UM FERIADO QUINTA-FEIRA. TRANSFERIU PARA AMANHÃ. QUERIA TER ESSA DISPOSIÇÃO COM DEPUTADOS E COM A COMITIVA QUE FOI TOMAR CHAMPANHE EM COMPENHAGUE, NA ESCOLA DA CIDADE-SEDE EM 2016!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Os últimos 10 vencedores do Prêmio Nobel da Paz. Por que Obama venceu?

O presidente dos Estados Unidos Barack Husseim Obama foi escolhido pela Academia Real Sueca o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2009. No site Nobelprize.org , somente é dito que Obama ganhou "for his extraordinary efforts to strengthen international diplomacy and cooperation between peoples" (TRADUZINDO: por seus extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre as pessoas). Ok, o OBAMA é diferente do Tio Bush II mas, será que era para tanto?

Vejamos o que fizeram outros laureados pelo prêmio que mais chama a atenção do mundo, anualmente. Como o prêmio é divulgado desde 1901, reduzimos nossa lista pesquisada aos últimos 10 vencedores, a partir de 1999.

Em 1999, a instituição Médicos Sem Fronteiras (wikipedia) recebeu o Nobel, "in recognition of the organization's pioneering humanitarian work on several continents" (TRADUÇÃO: em reconhecimento ao pioneirismo do trabalho humanitário da instituição em vários continentes). Simplesmente, para mim, esta e a Cruz Vermelha Internacional são as duas principais organização de auxílio humanitário do mundo, atuando em todos os conflitos mundiais, dos mais conhecidos aos mais esquecidos pela mídia. Vale a pena conhecer, se engajar e contribuir.




Em 2000, Kim-Dae Jung (wikipedia), ex presidente sul-coreano, falecido em 2009, "for his work for democracy and human rights in South Korea and in East Asia in general, and for peace and reconciliation with North Korea in particular" (TRADUÇÃO: por seu trabalho a favor da democracia e direitos humanos na Coréia do Sul e Leste Asiático em geral, e seu esforço pela paz e reconciliação com a Coréia do Norte em particular). Como presidente, conduziu a Coréia do Sul durante a crise asiática do fim da década de 1990, de modo incrivelmente positivo. Seu maior legado foi ter sedimentado a democratização da Coréia do Sul, assim como ter buscado de todas formas a reaproximação com a irmã Coréia do Sul. Durante as Olimpíadas de 2000, as duas Coréias entraram sob uma mesma bandeira, dando esperanças de fim a um dos mais tristes capítulos da Guerra Fria (a separação das Coréias).

Em 2001, o prêmio Nobel da Paz foi dividido entre Kofi Annan (wikipedia), ex secretário-geral da ONU) e a ONU (Organização das Nações Unidas), "for their work for a better organized and more peaceful world" (TRADUÇÃO: por seu trabalho por um mundo mais organizado e pacífico). Não entrarei no legado de Kofi Annan, visto que é, inegavelmente, uma das figuras mais importantes da história mundial pós-Guerra Fria.


Em 2002, o vencedor foi o ex presidente americano Jimmy Carter (wikipedia), "for his decades of untiring effort to find peaceful solutions to international conflicts, to advance democracy and human rights, and to promote economic and social development" (TRADUÇÃO: por suas décadas de esforço sem descanço para encontrar soluções pacíficas para conflitos internacionais, por avançar a democracia e os direitos humanos, e por promover desenvolvimento econômico e social). Carter foi presidente americano, e isso por si só já é controverso. Atuou em diversas crises internacionais, e recebeu o prêmio por sua atuação diplomática. É o único presidente que recebeu o prêmio quando estava fora do cargo (foi presidente de 1977 a 1981).

Em 2003, a vencedora foi Shirin Ebadi (wikipedia), "for her efforts for democracy and human rights. She has focused especially on the struggle for the rights of women and children" (TRADUÇÃO: por seus esforços pela demcoracia e direitos humanos. Ela focou sua atuação especialmente na luta pelos direitos das mulheres e crianças). Shirin é uma grande jurista iraniana, que constituiu sua vida lutando pelos direitos civis de mulheres, crianças, homossexuais e outros grupos marginalizados no Irã. Devido a sua luta e seu reconhecimento internacional, é perseguida pelo governo iraniano, que em 2008 fechou sua ONG de direitos humanos. Sofre contínuas ameaças de morte, e muitos acreditam que seu assassinato seja apenas questão de tempo.


Em 2004, a vencedora foi Wangari Muta Maathai (wikipedia), "for her contribution to sustainable development, democracy and peace" (TRADUÇÃO: por sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, democracia e paz). Grande ativista, militante escritora de temáticas de desenvolvimento sustentável e políticas sociais voltadas aos menos favorecidos, luta por uma África que consiga se auto-governar e gerr seus problemas, sem no futuro precisar de doações.




Em 2005, o prêmio foi dividido entre a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA em português e IAEA em inglês) e seu diretor, Muhamed ElBaradei (wikipedia), "for their efforts to prevent nuclear energy from being used for military purposes and to ensure that nuclear energy for peaceful purposes is used in the safest possible way"(TRADUÇÃO: por seus esforços para prevenir e impedir o uso militar da energia nuclear e assegurar que a energia nuclear seja usada da forma mais segura). ElBaradei teve enorme atuação em todo o mundo, destacadamente nas questões de Iraque, Coréia do Norte, Paquistão, Índia e Irã. Deixará o cargo em 30 de Novembro de 2009.

Em 2006 o prêmio foi dividido entre Muhammad Yunus (wikipedia) e o Grameen Bank, ambos de Bangladesh, "for their efforts to create economic and social development from below"(TRADUÇÃO: por seus esforços em criar desenvolvimento econômico e social dos mais pobres). Yunus simplesmente levou uma idéia incrível a ser efetivada como uma das maiores iniciativas pessoais de oportunidades para os mais pobres da história. O Grameen Bank, fundado por ele, é um banco de microcrédito que empresta pequenas quantias de dinheiro para pequenos produtores muito pobres de Bangladesh, com mecanismos de garantia de repagamento em caso de calote, pois os "clientes" formam grupos que buscam ajudar-se solidariamente. A idéia do banco é a de que "os pobres tem habilidades, porém estas estão subutilizadas". Seu banco deu frutos e as organizações dele nascidas emprestam dinheiro em 43 países. Empresta sem contrato escrito, somente utilizando a palavra e a confiança como segurança de pagamento do dinheiro emprestado. Recomendo o artigo Grameen Bank, na Wikipedia. Melhor o em inglês, mais completo.

Em 2007, o prêmio foi dividido entre Albert Arnold Gore Jr. (Al Gore) (wikipedia), ex vice presidente americano e ativista humanitário e ambiental, e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), "for their efforts to build up and disseminate greater knowledge about man-made climate change, and to lay the foundations for the measures that are needed to counteract such change" (TRADUÇÃO: por seus esforços para construir e disseminar maiores conhecimentos sobre mudanças climáticas causadas pela humanidade". Gore é controverso, sendo genial em suas questões ambientais, sendo um dos grandes responsáveis pela atual preocupação mundial com o derretimento das calotas polares, extinção de espécies e subida do nível dos mares, devido ao aquecimento global causado pelas atividades urbano-industriais do mundo. Seu livro e filme, Uma verdade inconventiente (An inconvenient truth) (wikipedia), ganhou o OSCAR em 2007 como melhor documentário, e em 2009 ganhou um Grammy como melhor CD falado. Porém, suas posições políticas muitas vezes o aproximaram de outros líderes americanos de biografia política controversa.

Em 2008, o prêmio foi oferecido a Martti Ahtisaari (wikipedia), ex presidente finlandês, "for his important efforts, on several continents and over more than three decades, to resolve international conflicts" (TRADUÇÃO: por seus importantes esforços, em vários continentes e por mais de três décadas, para resolver conflitos internacionais). Ahtisaari interviu como negociador enviado pela ONU e pacificador pela agência na Irlanda do Norte, Indonésia, Kosovo, Sérvia, Iraque, nas regiões do Chifre da África e Ásia Central.



Chegamos à conclusão que o Prêmio Nobel não é a descoberta da pólvora, nem sequer da dinamite, esta uma invenção de Alfred Nobel, criador do prêmio. Buscamos sempre que os outros nos digam quem serão os novos salvadores, não só da pátria, como de nossas próprias peles, e neste sentido, o Prêmio Nobel serve como um esconderijo para nossas frustrações de não-ação, ignorância e temor descriativo. Escondem-se as frustrações por trás de um nome, "Nobel da Paz", esperando que estes sejam os novos Cristos, Madres Teresas de Calcutá ou Dalais Lamas. Mas o Nobel não é uma escolha divina, supra-humanitária e aleatória. É apenas mais uma premiação que, como todas as premiações, é controversa e discutível.

Controversa como a premiação deste ano, que premiou o presidente americano Obama, que se afirmou como o salvador da humanidade contra todas as quimeras mundiais que assolam o unoverso: o aquecimento global, a falta d'água, o barbudo terrorista, um presidente anterior igualmente terrorista, aumento dos preços, desemprego e tsunamis assassinas, fundamentalismo científico e religioso, a sexualização precoce das crianças, gravidez na adolescência e na terceira, sexo frágil (homem), sexo forte (mulheres), o mistério da convulsão de Ronaldinho em 1998 e o mistério de quem matou John F. Kennedy.

Primeiro imaginei que esta seria a primeira vez na qual o Nobel premiava alguém antes de fazer algo. Porém ele já fez! Ser eleito foi um feito, um marco, e guarda uma potencialidade criativa infinita. Ele nos fez e nos faz sonhar. Querendo ou não, concordando ou não, nós escolhemos Obama para o Prêmio Nobel da Paz. Nós o construímos.; citar Obama é referendar o Nobel;Afinal, o simples fato de olharmos para a Casa Branca e não vermos Bush II já nos trás bons motivos para uma linda noite de sono.

Avalio como um prêmio pelo que ele fez à história das nações: existiu!
Algo que não se via desde John F.Kennedy. John John era o Obama de outrora, e antes de o mundo perceber isso, foi assassinado. Creio que tudo isso passou à vista de quem escolheu. Obama é a vitória do poder simbólico. O fato dele existir já me deixa bastante mais tranquilo com o futuro do mundo, por mais que ñ tenhamos por que. Ele é a pergunta, e a própria resposta. Podemos fazer um mundo diferente? Yes, we can! (Sim, nós podemos!)

NOTA DE FIM DE MATÉRIA: O Prêmio Nobel, ao ser dado ao Obama, tão jovem e sem efetivamente ter começado sequer sua história de feitos como presidente, trabalha com três possibilidades: 1- Obama faz um governo espetacular, e o Nobelé reconhecido como uma premiação ousada, que arriscou na pessoa certa, mesmo antes de seu governo ter tempo de vida; 2- Obama faz um governo terrível, frustrando as pessoas do mundo; a guerra do Afeganistão vira uma carnificina, e o Nobel se desmoraliza; 3- Obama, além de fazer um ótimo governo, conseque pacificar o Oriente Médio ou algo deste tipo. Ganharia o Nobel duas vezes? Seria inédito na história. Em tempos de guerras preventivas, como as que Bush criou, o Nobel cria o Nobel preventivo. Bem ao estilo daquela plaquinha de Maracanã que diz: EU JÁ SABIA!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

[URBE] A população se revolta contra o trem: Uh uh Nova Iguaçu!

Um dia o jovem senhor viu na televisão reportagem apresentando as condições de vida em Bangladesh. O país asiático é um dos mais pobres do mundo. As crianças deste país, quando entre 7 e 12 anos, trabalham semi-escravizadas em tecelagens artesanais do país, manuseando teares manuais. Trabalham de graça, por acreditarem que o trabalho é a coisa mais certa que podem fazer durante suas infâncias, para que suas vidas de adultos sejam ricas, e possam dar condições dignas para suas famílias. Estas crianças trabalham mais de 12 horas por dia, gratuitamente, e são analfabetas! Isso mesmo, pois nunca estiveram em uma escola. São contratadas pelo tamanho das mãos e...falando sério, são contratadas por serem baratas, eficientes e principalmente, por não reclamarem! Trabalham exploradas, escravizadas desde a menor infância, e não reclamam!

O jovem senhor se espanta com a passividade da sociedade bangladeshiana com aquilo que considera um "absurdo", "ultrajante" e algo que ameaça a "Dignidade da pessoa humana". O senhor levanta de sua poltrona, desliga a TV cedo, pois no dia seguinte vai trabalhar e acordar cedo. Vai de trem e metrô. Reside numa metrópole moderna, cosmopolita com ares provincianos que os estrangeiros acham delicioso; metrópole entre a montanha e o mar, com lindas praias e garotas de biquini. Reside no subúrbio, em bairro cortado por um muro de Berlim chamado TREM. A farmácia mais próxima fica a menos de 50m de sua casa, porém tem que andar 600m ao longo do muro de berlim-trem para subir uma passarela de concreto cujos vergalhões estão expostos por falta de conservação, descer a passarela, e fazer os mesmos 600m voltando, para encontrar a farmácia. Não há passarela perto de sua casa. Há tempos os moradores pedem por uma, sem resposta. Chegaram a fazer um buraco nos muros, para atravessarem rumo outro lado, porém...a companhia de trem o fechou.

Seu trem, pela manhã, não passa cheio. Passa entulhado. No entulho que carrega, estudantes, mulheres cheirosas e novas,mulheres cheirosas e velhas, mulheres comperfumes horríveis, senhores com bafo de cachaça da semana passada, senhores! Pessoas que vão trabalhar e estudar, na cidade entre a montanha e o mar. Pessoas que não moram perto do mar, mas muitas vezes residem em montanhas baixas, chamadas "morros". O trem não obedece lógica, não tem hora de chegar ou de partir, e nunca se sabe se opróximo será o trem mais moderno do mundo, ou um trem saído da primeira revolução industrial inglesa. O trem segue, o avião do trabalhador cria asas, e de tão cheio, se frear, milhares morrem esmagados. Deus protege. Óbvio que quem mora perto do mar na avenida Beira-mar estámais protegido. Ao menos, mais protegido de morrer esmagado no trem.

A cidade é linda, a paisagem é diversificada, e a Vista Chinesa, no alto da Floresta da Tijuca, permitindo avistar construções divinas naturais como o mar, a montanha, as matas, os barracos, a miséria e as balas traçantes durante a noite! De dentro de seu trem, o Cristo Redentor usa coletes, a prova de balas, e muitas vezes aproveita que já está de braços abertos para vender um cortador de unha no trem. É barato, é contrabando, é subemprego, é sabido, e é ignorado por todos. A maior multinacional de alimentos do mundo subcontrata os camelôs proibidos e lhes paga menos ainda. Trabalham vendendo, com sapatos furados, e sem dentes na boca. Caso não venda, pede, e pega uma criança de rua para servir de álibi, sensibilizando a todos no vagão. Tecnologia de marketing direto nascida nas ruas cariocas, aceitando moedinhas de um centavo ou um pedaço de pão. Mas preferindo uma nota de dois reais. Os seguranças da empresa de trem parecem envergonhados com a situação que passam estes camelôs, que são proibidos por lei de estarem ali, e para impedi-los é que se contratam os seguranças, mas a vergonha os força a virar de costas e fingirem que não viram. Pobres coitados dos seguranças.

O sistema de segurança do transporte do senhor é eficientíssimo. Saído diretamente dos programas do Discovery Channel, quando exibem cardumes inteiros fugindo de tubarões famintos. No trem é assim também, pois o povo se expreme, um por dentro do outro, assim nenhum larápio roupa o próximo. Caso algum delinquente resolva por opção deixar parte do corpo para fora do trem lotado por terem fechado as portas sem dar tempo de todos entrarem, os senhores da segurança (de quem) chicoteiam o senhor até que este sinta dor e se meta trem adentro. Recebe chutes, não respira, chega suado. Paga dois reais e cincoenta.

Paga mais dois reais e sessenta de metrô. Ou três e oitenta de "integração". Engraçado, mas sempre imaginou o senhor que integrar fosse tornar dois em um. Sem diferenciação. Sai do trem anárquico e entra no metrô facista. Não sabe qual é o pior. Se a anarquia do trem repleto de pedintes e vendedores, ou o facismo dos imbecis que entram e estacionam nas portas. Mas vai feliz. Caso queira urinar neste ínterim, o fará nas passarelas, pois não há banheiro. Seu sistema de trens e metrô foi privatizado em um contrato que estabelece regra peculiar e engraçada para ele, que não entende a quem a mesma beneficia. A lei diz:

O lucro será do doutor, e o din din pra comprar trem novo será de todo usuário, inclusive do senhor, pago pelo Estado.

O senhor chega ao trabalho, senta-se, cansado, após duas horas dentro de dois infernos metálicos, usurpado e mal tratado, destruído como cidadão e como carioca, e comenta com o amigo: COITADO DO POVO DE BANGLADESH! GRAÇAS A DEUS, NO BRASIL,SOMOS MUITO BEM TRATADOS!

Anos depois, se torna apresentador da Rede Record, ou secretário de transportes ou governador, e chama a quem se revolta com o trem de VAGABUNDOS.

Breno Mendes, um vagabundo

FIKA A DIKA: O choque do oportunismo e da realidade (Texto do Observatório da Imprensa sobre a reportagem de TV que explorou a miséria das crianças bengalesas por IBOPE): http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=545CID002

FIKA A DICA: A foto das "chupetas do trem", a segunda desta postagem, veio de um grande fotógrafo: http://www.flickr.com/photos/claudiolara/sets/1602444/
 
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