sábado, 24 de outubro de 2009

As ruínas da memória: O passado (in)felizmente vai embora, matando a cada um de nós

Enquanto trabalho no IPEAFRO, de segunda a quarta, me vejo mergulhando em um oceano de informações, dados históricos, eventos incríveis, que não vejo estarem pública e notoriamente conhecidas pelas pessoas, pelos mais diversos motivos. Por exemplo estas mulheres das fotos 3x4 tiradas nos anos 1940-50.

Um exemplo é a velha questão: em quem você votou para deputado/vereador nas duas últimas eleições? Parece incrível, mas nem mesmo eu sei. Há uma cultura política grotesca em nosso país que esquece os fatos políticos marcantes, por uma lado devido ao pouco hábito fiscalizatório ao qual somos instruídos; por outro lado, devido ao ritmo incessante da vida moderna, que apaga dos homens e mulheres quaisquer possibilidades de otimizar seus tempos cotidianos de modo a refletir suas ações.

Há um grande problema neste assunto, pois a partir do momento em que a ação cotidiana da vida se torna orgânica e incessante, posto que não é refletida ou confrontada a modelos teóricos mentais ideais ou projeções de futuro e comparações com momentos similares no passado ou presente de pessoas conhecidas, ocorre uma perda do caráter humano de todos.

Ocorre a alienação total e absoluta, e o homem, que é homem por trabalhar e dar sentido a este trabalho, atribuindo-lhe uma carga valorativa e de significado, representando a si, sua ação e ao produto da mesma, torna-se apenas engrenagem, se torna máquina, e máquina não explica, a máquina não se explica, e não exige explicações. Máquinas exigem óleo (um pouco de comida), manutenção (descanso noturno) e uma nova carga de trabalho sem razão de ser.

Se chama alienação, se chama desumanização. Alienado é aquele que não apreendeu todas as fases de seu trabalho, ou o papel que sua sua ação local desempenha no conjunto geral da obra, seja no trabalho, na escola, na igreja e em outros espaços de sociabilidade. O risco, jádizia Marx, era o de que a alienação transformasse o homem em coisa, e a coisa não soubesse sequer se libertar, além de não saber da possibilidade de libertação. A coisificação do homem se torna uma problemática pesada e custosa a todos nos dias de hoje, pois coisa não reflete, não se coloca no lugar do outro nem se vê como essencial ao global.

Não saber o que se faz, os por quês, nem como se faz, e qual o sentido desta ação leva a atitudes insanas, radioativas e ameaçadoras ao futuro global, como o ato de jogar lixo nas ruas, tratar mal alguém na rua, jogar comida fora e mesmo não agarrar as oportunidades que a sociedade lhe forneça de estudar, seinformare devolver ao mundo aquilo que foi conquistado com muita luta pelo povo.

Estudantes alienados vão à escola sem entender o que fazem ali, sem saber que matemática fará seus cérebros ficarem velozes e com raciocínio lógico apurado. Se enxergam enquanto reprodutores de ações toscas e mal formadas, buscando notas de aprovação que calem a boca de seus pais e lhes permitam mais tempo jogando bola na rua, ou tempo na lan house. Professores que alienam seus alunos, diretores que alienam seus professores. Pais que se alienam olhando no espelho e pedindo aos filhos uma ética que jamais tiveram. C'est la vie!

Funcionários alienados porduzirão muito, porém sem significação, sem propostas, sem colocar aopatrão o que pensam, sem organizarem-se, e com isso, no futuro distante que vivemos a favelização é um resultado direto do enfraquecimento do trabalho frente ao capital.

Mulheres alienadas somente repetirão comportamentos machistas, travestidos de "girl power" e feminismo, sem entender que a libertação da mulher deve ser uma libertação da humanidade como um todo, visto que foram as atitudes machistas que configuraram o mundo atual na louca megalomania que há.

Fiéis alienados enxergarão com egoísmo a porta do céu, afirmando-se como os únicos mercedores da salvação, sem lembrar que toda e qualquer doutrina religiosa é minoritária dentro do amplo espectro de deuses e divindades existentes no globo. Logo, calculo que se Deus escolher apenas uma doutrina para ir ao céu, cinco sextos da humanidade virarão churrasquinho do capeta, namaior chacina de todos os tempos. Isso sem falar nos líderes espirituais que não hajam com justiça.

"Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante, mas nos deram espelhos, e vimos um mundo doente!" (Legião Urbana)

"A memória é uma ilha de edição!", dizia Camara Cascudo. Quem? Não me lembro de Câmara, nem do Cascudo que me deu, enfim. O post de hoje mistura tudo o que tem havido em minha vida, como um liquidificador ambulante, como uma metralhadora transtornada, sem pieguice.

O engraçado das relações conjugais é que são provas cabais de que tudo na vida é passageiro, e que devemos fazer tudo o que há pra fazer quando temos a oportunidade. O amor é alienante e alienado. Num dado momento, a outra pessoa é genial, incrível,essencial em sua vida, não havendo futuro sem aquela pessoa. Mas parece que do nada o imprescindível se torna nada mais, e o eterno, se torna amor antigo, quando muito. Mais comum se transformar em coisa nenhuma, e olhe lá.

Na vida cotidiana da cidade, não encontramos pessoas que tenham memória longa para suas dívidas. Pessoas que só lembram dos que as devem, mas não a quem devem. Talvez eu mesmo já tenha dado calote, largado alguém sem ligar, e agora esteja passando algo como a lei do retorno. Não sei, talvez eu também esteja convivendo com o Mal de Alzheimer social, a perda da memória cotidiana. Fico feliz pelas pessoas lembrarem que o presidente é Lula. O fato de lembrarem q votaram nele já é bastante promissor, visto que à época de Collor e FHC, nos bares da cidade ninguém admitia ter votado neles: "Eu? que isso, meu irmão! Votei no Lula!" (Seu Manoel, dono de alguma padaria por aí, fugindo da verdade).

Que seja. A memória é uma ilha de edição, e eu não consigo mais acreditar que se lembrarão do que escrevo daqui a 10 minutos. Ao menos, tentem fugir da alienação, amigos! Reconheço que dizer isso tudo o que digo aqui é deveras alienante!

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